quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Da série Grandes Gênios da Contemporaneidade

Episódio de hoje: Lars Von Trier

Há dois funcionários da empresa em que eu trabalho que estão dando um pouco de dor de cabeça. Resumidamente: um deles é muito bom tecnicamente mas é mau caráter. O segundo tem um excelente caráter mas é incompetente e improdutivo.

Durante o ano passado, eu conversei com o primeiro. Pelo menos duas vezes. Expliquei que ele tinha um belo futuro (ele deve ter algo com 24 anos) desde que tivesse uma postura mais honesta e um pouco de paciência (infelizmente, honestidade, no meio em que eu trabalho, não é um valor assumido como inquestionável). Não adiantou, ele melhorava por algumas semanas e depois os padrões se repetiam.

No caso do segundo, ele me pediu aumento de salário, alegando que outros profissionais tinham recebido. Eu expliquei para ele as razões dos aumentos dos seus pares e disse o que ele precisaria fazer para também receber. Ele absolutamente "ficou de mal" de mim (ele tem 50 e poucos anos). Começou a fazer corpo mole e a trabalhar mais lentamente ainda (incrivel pois achei que isto fosse impossivel..). Umas quatro semanas após esta conversa, este funcionário pediu para conversar com um outro diretor da empresa (desta vez, o Financeiro). Ele foi atendido e os argumentos foram os mesmos, de ambos os lados. O comportamento pós-conversa também foi o mesmo.

Resolvemos desligar os dois.

Hoje, a minha estagiária, que está se mostrando uma pessoa extremamente inteligente, disse que conversou longamente esta manhã (ainda bem que eu não estava no escritório...) com os dois funcionários em questão. Ela tentava argumentar comigo que a empresa estava agindo de forma incorreta. Que deveríamos ouvir mais as razões destes dois funcionários e, quem sabe, assim, conseguiríamos mantê-los no quadro e, ainda por cima, motivados.

Eu a ouvi pacientemente. E expliquei todos os meus argumentos. Disse que já havíamos conversado com eles. Que já houve casos iguaizinhos com outros funcionários e que nós já sabíamos qual seria o desenrolar. Que o custo de oportunidade da hora de um diretor é muito alto para ficar ouvindo funcionário incompetente se lamuriar. Que, às vezes, o papel do capitão do navio é ingrato mesmo, que é necessário jogar o marinheiro com escorbuto no mar para proteger todos os outros a bordo. Etc, etc e etc.

Além dela discordar de todos, ainda está me achando um crápula, insensível e representante do Capitalismo selvagem que não se comove com o bem estar dos seres humanos.

Depois disso tudo, fiquei pensando...se, ao invés de eu ter gasto 40 minutos explicando e argumentando com ela, eu tivesse apenas dito "Assista Manderlay e depois conversamos", eu teria sido muito mais eficiente...

5 comentários:

Rivotril disse...

tá mais pra Oco Exterminador do que Manderlay....

Homem Oco disse...

é, parceiro, depois de 02 anos literalmente "levando ferro", eu tô mandando meu "complexo de bonzinho" pela descarga...

na verdade, nem é necessário assistir a manderlay...só o dialogo final da filha com o pai em dogville já dá uma tese de doutorado...

abs

Masamune disse...

Não assisti esse filme, to baixando, depois comento essa parte.

Não acho produtivo dar satisfação pra estagiária que se meteu onde não foi chamada. Minha tentação seria dizer isso pra ela diretamente mais ou menos assim.

Tento resistir a esse impulso, pois também não é produtivo. Mas mostro da melhor maneira possível que não vou discutir isso com ela. Faço isso pois acho que essa conversa não tem chance de resultado positivo.

No trabalho, considero produtividade a premissa básica, pois sem isso a empresa não sobrevive. Qualidade de vida e bom ambiente por exemplo pra mim são importantes no que afeta a produtividade. Pessoas satisfeitas tendem a produzir mais e melhor.

Mas quando a satisfação das pessoas se coloca contra a produtividade, não penso duas vezes em escolher a segunda opção. O cara que pede aumento sem merecer, fica insatisfeito, e diminui a produtividade, está pedindo pra ir pra rua. Ele se demitiu.

Essa é a tal estagiária???

Diogo disse...

Eu tenho um comentário sobre isso:

Caráter não se adquire depois de velho. Esse funcionário para mim vale um AVISO de que ele não é mais esperto que os outros, e que tem gente de olho. Na segunda vez, rua. O custo de reposição é alto, ficar sem gente, etc, mas para mau caráter não tem o que discutir.

Quanto ao improdutivo, para mim é um pouco mais difícil - se o cara já foi produtivo um dia, vale tentar dar um toque. As vezes o cara desmotivou, por algum motivo, e você efetivamente pode fazer alguma coisa para resgatá-lo. Se não, o quanto ele improdutivo é pior do que ter que achar um novo e testar?

Sobre a estagiária, acho que a gente tem um papel de tentar formar essa gente, de algum jeito. Isso implica:

. os donos da empresa estão lá para criar valor para si, agregando alguma coisa para o mundo.
. Só movimento gera dinheiro. Cada minuto investido é dinheiro que está sendo ganho, ou deixando de ser ganho.
. Empregar é buscar uma pessoa para realizar um trabalho, não filantropia.
. Caráter é indiscutível - isso é arbitrário. Se roubar, é mandado embora. As coisas têm consequências.
. "Vocês já ganham tanto dinheiro, não podem investir algum neles?" - o dinheiro é limitado, bem como energia e tempo. Ter um mau caráter ou um vagabundo/incompetente ocupando uma posição de alguém potencialmente competente e honesto é errado.
. Os diretores não são malvados, crápulas do capitalismo. Tente entender por que as decisões são tomadas, se coloque no lugar deles.

Homem Oco disse...

salve rodrigueira! legal, depois me diga o que achou do filme!

verminoso, bom ver vc de volta nas discussões! é isso, concordo bastante com o que vc escreveu! mas confesso que eu ainda preciso aprender um montão...