quinta-feira, 2 de outubro de 2014

Sobre barcos e valores

"Mas sabe el diablo por viejo que por diablo"

Ditado espanhol



" - Mestre, como me torno sábio?
- Fazendo boas escolhas.
- E como faço boas escolhas?
- Fazendo más escolhas. "

Conto budista


Nos últimos cinco anos, eu passei por uma experiência profissional extremamente enriquecedora. Não me refiro a aspectos técnicos da minha profissão, o que certamente houve, mas a questões fundamentais sobre quem eu sou. Apenas para contextualizar, vinha gerenciando uma empresa em conjunto com dois bons amigos.

Essa foi a minha segunda oportunidade no banco do motorista de um negócio. A primeira, como quase tudo o que fazemos pela primeira vez, foi um fracasso. Com essa segunda, entretanto, a história foi um pouco diferente: mais extensa, com pitadas de sucesso e muito mais significativa.

A grande diferença entre ter um patrão e ser o patrão, diferentemente do que a maioria pensa - principalmente quem apenas sonha em ser patrão - é que ser o dirigente escancara, para você mesmo, traços de quem você é que nunca apareceriam ao trabalhar para os outros. Deixando claro que isso não necessariamente é bom - na realidade, é bem doloroso - e que não defendo, de forma alguma, que todos larguem seus empregos e abram negócios. Isso só traria infelicidade generalizada. O foco desse texto é o autoconhecimento e muita gente é mais feliz sendo empregada, mesmo que acredite no inverso.

Voltando. Eu sempre fui um devorador de conhecimento. Livros de assuntos gerais, artigos, revistas, conversas sempre me interessaram e eu tenho facilidade em acumular informação, travestidas em pseudo-conhecimento. E eu costumo sair por aí repetindo coisas lidas ou ouvidas. Eventualmente, consigo, de fato, compreender o significado de algumas mas, na maioria das vezes, era - sou - um mero papagaio.

Digo isso pois os ultimos anos, como dito anteriormente, foram dificeis. Não pelos acontecimentos em si - tudo bem, não navegamos em mares de almirante, mas pela forma com a qual eu reagia às situações. E isto me proporcionou conhecer um pouco melhor quem eu sou de verdade. Ao viver, vou percebendo que por mais que acumulemos informação e conhecimento, quem somos verdadeiramente eclode quando as situações acontecem. A sua reação aos fatos grita ao mundo quem você é. De uma situação simples e trivial - uma fechada no transito - a questões mais dificeis, como uma perda significativa ou uma proposta indecorosa no trabalho. Tendemos - falo por mim, claro - a idealizar comportamentos e conceitos mas, quando a vida acontece, o verdadeiro surge.

Não defendo que o acesso à informações é inútil. Ele é o primeiro passo. Mas entre ele e a sua introjeção, há um caminho longuíssimo.

Eu defino a forma como venho me comportando nos ultimos anos como um gato na maquina de lavar roupa. Eu me achava mais emocionalmente estável porém tenho sido um joguete emocional das circunstancias. Demorou, e muito (pelo menos cinco anos) para eu 1) compreender que eu não era quem achava que era e 2) ter ciencia que é necessário avançar. Avançar para o tipo de homem eu quero me tornar. E eu quero me tornar alguém que sofre menos o balançar das ondas; a vida não ficará mais suave, eu é que preciso me tornar um capitão mais sereno e firme.

Estou lendo um livro escrito por um levantador de peso americano. O cara competiu em alto nível por vinte anos, atingiu marcas como um agachamento com 900 libras e um supino com 700 libras e hoje dirige uma bem conceituada academia em Ohio, local onde diversos atletas de alto nível vem sendo formados. O teor do livro é uma relação dos aprendizados comuns entre levantar peso, dirigir um negócio e viver. Estou gostando.

Um dos capítulos trata de integridade. Não apenas integridade como um valor social mas como um valor individual, uma aderência aos valores que você considera mais caros. Ter clareza de quais são os valores que nos são caros é o primeiro passo, na minha compreensão, para avançar na direção descrita no penúltimo parágrafo. Porque eles nos escoram quando as ondas grandes surgem.

Hoje, aos 35 anos de idade, eu parei para pensar, pela primeira vez de forma sincera, quais são os valores que eu considero vitais para me tornar o homem que quero ser.

Espero que esse exercício não fique apenas no campo conceitual.

Um viva à vida vivida.

segunda-feira, 16 de junho de 2014

Eu vinha ensaiando retomar o blog há tempos. Realmente sinto falta de escrever. Andei postando alguns textos no FB mas não é a mesma coisa. Lá, sinto que estou invadindo as pessoas. Elas simplesmente recebem aquele texto quando tudo o que queriam era uma foto de um cachorro fofo ou de um recém nascido ou algum meme xingando a Dilma. Mesmo com uma ou outra curtida, me sinto desconfortável.

Já sentei para escrever textos para cá mais de uma vez.Começo os primeiros parágrafos e aí acho tudo uma bosta. Apago tudo e vou navegar pela web.

Semana passada, fui inspirado pela Masamune, amigo que escreve no Homem Enxaqueca. Ele retomou o blog. Decidi retomar esse aqui.

Como não há nada pipocando na cabeça agora, vou então transcrever um texto publicado na GQ de abril de 2012. A ultima frase do texto me marcou muito.

O texto chama-se "Os erros que cometemos ao longo da vida" e trata sobre as principais cagadas que nós, homens, cometemos durante todas as idades: a adolescencia, os 20, os 30, os 40, os 50, os 60 e os 70. Não vou escrever tudo - pois o texto é grande. Portanto, me concentrarei na fase que estou: os trinta. Quem sabe daqui uns anos escreva os erros dos 40, 50, 60....

"Aos 30 anos ainda é cedo, mas é tarde demais para voltar e começar de novo. O grande erro que cometemos aos 30 é acharmos que já somos velhos. Não - você não é velho, apenas não é mais jovem. Sim, a vida está se infiltrando agora - quase certamente haverá um emprego que não é o que você esperava e um relacionamento no qual a lua de mel definitivamente terminou. Se você ainda não é pai, é grande a chance de que logo será. Pela primeira vez na vida você ficará espremido pelos lembretes de sua própria mortalidade. Além de seu filhinho, você de repente se dá conta de que seus pais não estão mais envelhecendo - eles estão velhos.

Podemos ficar abatidos pelo tempo que já se passou, e pelos erros que cometemos, e pelos caminhos errados que pegamos, e pelas mulheres erradas que amamos. Mas ainda há tempo de acertar as coisas aos 30 - de ter a carreira que você quer, a mulher que você ama, a família com que sonha e a vida que merece. Mas é difícil de acreditar. Você tem menos cabelo na cabeça e mais nas orelhas. Alguns de seus contemporâneos começarão a parecer velhos. O resplendor da juventude se foi - sem se exercitar e pensar no que come, tudo irá começar a cair e ceder, do queixo ao pênis. Os 30 são a época que você deve decidir se irá desistir ou lutar."