domingo, 23 de março de 2008

pais e filhos - 2

Outro dia, combinei de assistir à uma peça com uma amigona de fora que está passando um tempo aqui na paulicéia desvairada.Nós nos atrasamos e perdemos a sessão. Como estávamos ali na praça Roosevelt, decidimos sentar e tomar cerveja. Sentamos às 19h e saí (ela continou no bar) às 4 da matina...jesus amado, fazia tempo que não ia pra casa trançando as pernas...bem, isso não importa, a questão aqui é outra.

Lá pelas tantas do papo, caímos em um assunto que há tempos venho refletindo. Ela me contou que tinha começado psicoterapia.Quando perguntei se ela tinha consciência de onde estava o cerne das suas questões, ela me respondeu (adivinhem!): meu pai.
Segundo ela, a sua principal questão é a auto-estima baixa que ela julga ser derivada, em grande parte, da relação com seu pai.

Na minha humirde opinião, as duas coisas mais importantes para um ser humano são: adenosina trifosfato e auto-estima (tá bom vai, oxigênio e água caem bem também...).

Auto-estima é tudo!A base de nossos medos, nossa capacidade criadora, nossa visão de mundo, nosso relacionamento com os outros bípedes, tudo tudo. Até aí, nenhuma novidade. O ponto é: qual a participação dos nossos queridos genitores nessa bela história? Hum, bem generosa, pra usar um eufemismo...

É engraçado, mas me parece que a relação que temos com aqueles que nos trouxeram pra cá é um grande ensaio (do Aurélio: treinamento das falas e marcações dos atores para adestrá-los e aprimorá-los no desenvolvimento dos seus papéis) para nosso relacionamento com o mundo.
Entre os milhares de comportamentos que atrapalham muito a nossa vida (escrevi "nossa" porque me incluo de corpo e alma nesse barco), listei 2 que considero extremamente prejudiciais: 1 - precisamos, sempre, provar que somos bons, muito bons naquilo que estamos fazendo (logicamente não estou me referindo à natural competição do mundo profissional) e 2 - precisamos, desesperadamente, ser queridos pelos outros. A idéia de desagradarmos nos é terrível.Se a relação com nossos pais é o ensaio que nos prepara pra vida, de onde vêm esses comportamentos autodestrutivos? Por mais que nos esforcemos para constituir nossa individualidade, acho que buscamos, ao longo de toda a vida, a aceitação de nossos pais.

Uma vez, um amigo me disse "acho muito perigoso esses pais que tentam ser amigos dos filhos. Amigo é amigo, pai é pai." Durante muito tempo, concordei com a afirmação. Porém, esses dias, vi uma definição de amigo que alterou minha opinião: "amigo é aquele que faz aflorar o melhor de nós".

No post "pais e filhos", um outro amigo colocou um comentário que dizia "é engraçado esse lance de qual a mensagem que os pais passam para os filhos. Fico imaginando o que passa pela cabeça deles 'se eu passar a mensagem - seja o que te faz feliz- meu filho é capaz de ser um desajustado... melhor incentivar a ser médico com uma casona, que isso nunca matou ninguém."De novo, a principio, concordei...mas depois fiquei pensando "será que nunca matou ninguém mesmo? O fato da depressão, do alcoolismo e dos cânceres serem as grandes doenças do nosso tempo não tem nenhuma relação com isso?O que faz um funcionário de banco que detesta a sua ocupação e sonha em ser saxofonista continuar nesta carreira até o final da vida? O que faz alguém acreditar que se comprar um blackberry ou um Citroen C3 será mais feliz?

Fico pensando nas gerações que antecederam a minha: a dos meus avós e dos meus pais. A geração dos meus avós foi a que viveu os horrores da primeira metade do século passado. A dos meus pais, foi criada por esta geração. O grande problema é que a dor, diferentemente do que acredita-se (de novo, é só a minha humilde opinião) só torna as pessoas frias e amargas.Então, a minha geração foi criada por uma geração filha da dor e da privação. Digo isso porque, de cada dez pessoas da minha geração que conheço (eu tenho 28 anos), oito têm uma relação bem conturbada com seus pais e (consequentemente?) problemas sérios de auto-estima.

Não sou psicólogo, psiquiatra ou antropólogo e muito menos, pai. O que estou dizendo aqui tem base apenas na minha observação da vida e na minha posição de filho.

Preciso deixar bem claro, antes de terminar o texto, que não estou jogando a responsabilidade pela felicidade das pessoas em seus pais.Cada um deve lutar por aquilo que acredita e a auto realização é um objetivo que cabe ao indivíduo buscar. Além disso, concordo com o Renato Russo quando diz "você culpa seus pais por tudo, isso é absurdo. São crianças como você...", mas que vou fazer um esforço danado para que meus filhos tenham uma auto-estima bem desenvolvida, ah vou....

2 comentários:

Masamune disse...

Muitos temas em um post, muito bom, mas vamos por partes:

1 - Não acho que uma criança sente necessidade de ser boa. Ela quer ser ACEITA por esses SUPERSERES que são seus pais( na visão da criança). A necessidade de ser boa é incutida desde muito cedo pelos pais, que estão condicionados assim. Acho que com muito auto-conhecimento, esse ciclo pode ser quebrado pelos pais.
2- Toda criança / pessoa necessita ser amada(aceita). O que os pais podem fazer de melhor é amar seus filhos. Agora cuidado, pois amar não é dar tudo, deixar fazer tudo. É ter uma atenção dedicada a esse ser, e levar em consideração seus sentimentos e frustrações.

Pais que são amigos - depende do tipo de amigo. Sabe aquele amigo que é companheiro, mas que quando vc tá fazendo merda ele te dá uma puta chamada? Que te mostra o que ele já aprendeu, pra se vc quiser possa não fazer os mesmos erros?

Agora, ser aquele "muy amigo" típico de balada, que tá com vc nas horas boas, e que nas ruins vaza? Um amigo que compete com você? ( mais comum entre mães e filhas)

Quanto a dor, há controvérsias. Em geral é com a dor que nos dispomos a aprender. Agora, existem pessoas que reagem mal a dor, se sentem vítimas, atacadas e devolvem tudo de ruim para o mundo. E como é a auto-estima dessas pessoas? Alta ou baixa? Será que voltamos ao começo, e tudo diz respeito à auto-estima???

De qualquer maneira, agora o jogo é com cada um. Acredito que devemos melhorar para não ferrarmos nossos filhos, principalemente porque somos seu maior exemplo.

Uma filha não faz o que o PAI lhe DIZ. Ela faz o que o PAI FAZ!

caio disse...

concordo com vc...lembro que quando pequeno, meu pai brigava comigo se o copo estivesse virado pra cima no escorredor...pois juntava aguinha no fundo...e isso era inadmissível...

qto a frase que termina seu comentário, eu não poderia concordar mais...no quartel, tinha uma frase na entrada do alojamento "a palavra convence, o exemplo arrasta"...

btw: vi o texto do teu blog..gostei bastante,pena que é solitário...

abraços