Em 2006, fiz uma viagem de mochila nas costas à Europa...como um backpacker que se preze, fiz um diário...um dos meus programas favoritos é reler trechos deste bixo...dependendo de como estiver minha auto-estima, vou postá-los aqui (se estiver muito alta, vou querer dar uma de gostosão...se estiver muito baixa, vou querer me auto flagelar e passar ridículo..se estiver normal, vou tomar cerveja com amigos e desencanar de escrever qqr coisa...).
Aí vai um trecho lido hoje...
Quinta-feira, 09 de novembro de 2006
“A primeira pessoa de quem precisamos nos despedir quando viajamos é de nós mesmos”
Hoje tinha programado acordar cedo e ir a Fuente Vaqueros à casa onde o Lorca nasceu, mas ontem à noite no albergue descobri que há um museu sobre ele aqui em Granada (que depois vim a descobrir ter sido a casa de veraneio da família Garcia Lorca, o lugar onde ele escreveu alguns de seu trabalhos mais importantes como Bodas de Sangue e o lugar onde ele morou antes de ser preso) então decidi passar por lá antes – ou ao invés – de ir a Fuente Vaqueros. Ao chegar ao museu, por volta das 10h, o recepcionista me disse que só seria possível visitá-lo ao meio-dia e meia pois grupos escolares haviam reservado a parte da manhã. Como sempre faço quando as coisas não acontecem como eu tinha planejado fiquei puto e saí andando (a essa altura da viagem já deveria ter aprendido a controlar meu geniozinho de general!). Ao caminhar pela cidade enquanto pensava no que fazer entrei em uma livraria. O primeiro livro que me chamou a atenção e folheei foi um livro de memórias de viagem de um jornalista espanhol. O maluco já esteve nos lugares mais remotos da África, Europa e América. A frase que inicia o dia de hoje é do livro. Ao ler algumas passagens uma idéia me acometeu: viajar pelo Brasil do modo mais rústico possível. Comprar um saco de dormir e sair sem data para voltar. Talvez cruzar o país. Não agora, mas uma sementinha foi plantada. Depois me interessei por uma enciclopédia sobre cachorros mas 15 segundos depois devolvi o livro ao seu lugar. A livraria estava uma bagunça só, acho que os funcionários estavam mudando a ordem das prateleiras. Achei depois um livro do Gabriel Garcia Marques chamado El amor y otros demônios cujo título me interessou bastante e o livro do Ramon Sanpedro que deu origem a Mar Adentro – um dos meus filmes favoritos – Cartas desde el infierno. Li por algum tempo esses dois livros até que minha lombar pediu para que fôssemos achar um lugar para sentar. Ainda tive tempo de dar umas risadas ao ver nas prateleiras perto da saída preciosidades como Como Lidar com Pessoas Difíceis ou Trabalhando em Equipe. Resolvi que ficaria por aqui mesmo e voltei ao museu do Lorca para garantir minha entrada para 12:30h.
Agora são 12h e estou sentado no parque que rodeia o museu, que é chamado Parque Federico Garcia Lorca, esperando ansiosamente para entrar e mais ainda pra devorar um sanduíche de chorizo que vou comprar na saída...
Ontem fui jantar com o James, americano da Califórnia de férias por aqui. Tivemos um papo razoavelmente interessante. Meus conceitos de papo interessante têm mudado ultimamente. Ele é um cara que qualquer um julgaria inteligente. Químico, trabalha na UCLA, 27 anos, viajou bastante. Falamos da estupidez do americano médio – na verdade eu deixei ele falar bastante enquanto só provocava-o de vez em quando com argumentos controversos absolutamente independentes à minha opinião, adoro fazer isso. Mas mais uma vez foi aquele papo que classifico com nível 2 de consciência; aquele papo onde julgamos estupidez o comportamento médio do ser humano sem dar-nos conta do que seria um comportamento não estúpido, sem prestarmos atenção em nós mesmos, usando muita certeza nas afirmações. Mas consegui lutar com minha preguiça e mantive uma conversa viva até o final. Acho que não há ninguém mais egocêntrico do que eu. Sevilla, aí vamos nós!
Acabei de chegar em Sevilla. Agora são 21:30h. A primeira impressão não poderia ser melhor: a cidade parece ser extremamente charmosa e com muita vida. Na vinda para o albergue passei por dois lugares fantásticos: a catedral e o palácio muçulmano (acho que seu nome é Alcazar). E ainda vi um anúncio de uma exposição que começou em novembro sobre os descobridores!! Mais: por vinte euros vou dormir em um quarto sozinho. O albergue é muito bonitinho e a recepcionista / dona é um charme só: Carmem – que nome bonito! Que língua bonita! Que país do caralho!!
Estava fazendo as contas quando soube que ia dormer sozinho. Desde Roma onde fiquei 06
noites venho em um ritmo alucinante:
- 3 noites em Florença (02 – frio e chuva)
- 02 noites em um camping em Veneza,
- 01 em Verona (gordo roncando), 02 em Genova, 8
- 01 em Riomaggiore (pulga),
- 03 em Milão (01 – pulga), 5
- 04 em Barcelona, 12
- 01 no trem (terrível), 47
- 03 em Valencia, 16
- 02 em Granada (01 – galera chegando da balada), 6
Nas últimas 22 noites, 10 lugares diferentes! Isso no 4º mês de viagem, meu ritmo é de fazer inveja a qualquer backpacker. E ainda estou me maravilhando com as cidades quando chego.
Em parênteses estão as noites que dormi mal ou pessimamente e as razões; os números após as vírgulas são o número de pessoas presentes nos quartos que dormi. Desde Riomaggiore (há 16 noites!) não durmo sozinho. Como aquela noite foi péssima, desde Veneza não durmo sozinho e bem (pelo menos 7 horas sem interrupções). Deixa eu aproveitar e fazer um balanço de quantas tive privacidade:
-06 em Londres,
- 01 em Den Haag
- 02 em Tallin
- 01 em Bari
- 01 em Palermo
- 03 em Florença
- 02 em Veneza
- 01 em Riomaggiore
- Sevilla (acho que três)
Entonces despues de quatro meses de viagen o groseramente 120 dias jo dormi solo em 20 noches contando Sevilla!Carajo...
Bem que a Carmem podia dar pra mim...
3 comentários:
cara,
vou manter o padrão e me ater somente à parte que posso te zoar...
por mais louca que a viagem tenha sido, querer que alguém dê para você é um pouco demais...
hahaha...sei lá né, vai que ela tivesse descoberto que o marido a tinha traído e entrou numas de "vou me vingar com o primeiro mané que aparecer"...
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