Terça-feira, 24 de ottobre de 2006
Cheguei em Veneza no sábado à tarde. O tempo estava péssimo e o ônibus para o camping só passaria na estação às 18:30h (eram +/- 13h quando cheguei). Deixei então minha mala no depósito e fui dar uma volta pela cidade. Não sem antes esperar a chuva amenizar embaixo da marquise da estação. Nesta espera conheci um cara do Sri Lanka. Ele pediu que eu tirasse uma foto sua e começamos a conversar. O cara morava em Oslo pois estava estudando inglês (?) lá. Cara legal, me contou umas coisas do seu país mas legal mesmo é eu poder dizer que conheci um srilanquês (mas a origem mais bizarra continua sendo a menina do Uzbequistão...)
Fui então conhecer Veneza. A cidade é muito bonita, na verdade mais charmosa do que bonita mas não achei que são justificáveis os 15 milhões de turistas por ano. Acho que criou-se uma lenda ao redor de Veneza que as pessoas vão mais pra dizer que foram do que pra curtir propriamente dito (haja visto o casal de japoneses batendo fotos da loja da Louis Vuitton. Aliás, me lembrei de ter visto em Florença um casaco de peles na vitrine da Louis Vuitton por 33.000 euros!! Trinta e três mil euros! Um casaco de pele! O cretino que compra isto deveria ser preso). Andar por Veneza é um saco. É muita gente. Muita gente. Nos principais pontos como a ponte Rialto e a praça San Marco quase dá vontade de ir embora. Um dos principais divertimentos dos turistas é pagar 1 euro em um saco de milho e ficar jogando aos pombos na praça (viva a raça humana). O palácio e a catedral de São Marco são impressionantes. A catedral lembra bastante Santa Sofia em Istambul (que só vi em foto). Mas não entrei em nenhum dos dois pois quando cheguei na piazza já eram quase 17h, horário que os dois fechavam. Voltei com calma para pegar o ônibus às 18:30h.
O camping era bem ajeitadinho. Não fiquei em barraca mas em um quartinho com três camas bem limpo e com um banheiro privativo (um super luxo nessa viagem). Jantei uma lasanha mais do que safada (que me custou 7,5 euros ) e fui dormir.
No dia seguinte andei quase por Veneza inteira. Era domingo e estava rolando a maratona anual da cidade. Caramba, vendo a galera na linha de chegada. 42 km é muita coisa. Tem que ter uma perseverança. E me chamou a atenção a idade média dos competidores, uns 40 anos. Todo mundo com um corpinho bem legal e correndo 42 km. Deu orgulho da galera. Agora, difícil de engolir é o povo que fica do lado de fora da corda dando incentivo. Cara, é o fim do mundo. Me lembro bem de um tiozinho sentado no bar, tomando sua cerveja e gritando “bravo, bravo, é quase finito” para os atletas que passavam quase cambaleando perto dele. O que será que passava na cabeça dele ? Também vi um cara entrar na área das cordas e dar um leve empurrão junto com palavras de incentivo para um senhor que se arrastava pelos últimos metros...acho que o senhor só não cuspiu no infeliz porque a aquela altura saliva devia ser um recurso valioso...
Bom, fui à galeria da Academia onde vi mais pinturas incríveis, desta vez os autores eram, entre outros, Tiziano, Veronese, Tintoretto e Canaletto. Como são bonitos os quadros de Canaletto. Dei um euro para uma dulpa de músicos que tocava My Way, andei como um camelo pelas ilhas principais, depois sentei e comecei a ler Heart of Darkness e peguei o ônibus das 20:30 para o camping. Comprei uma breja grande no bar do camping e fiquei pensando na vida. Nestes últimos dias tenho sentido bastante solidão, principalmente quando acordo e quando vou dormir. Sinto falta de alguém conhecido, familiar, qua fale minha língua, que me conheça há mais tempo do que algumas horas. E mulher então ? Jesus Cristo, que saudade de um cafuné. Acho que esse é o único grande contra da viagem até aqui. Mas ao mesmo tempo tudo tem sido tão fantástico, tão além do que eu imaginava. Quando cheguei ao meu quarto aquela noite comecei a folhear meu guia. Me deu uma felicidade inexplicável. Uma sensação de que a vida é uma grande viagem, que podemos ser, fazer e ir para onde quisermos. A Paula me disse que gostaria de ter crescido em uma cultura onde a mensagem principal fosse “seja o que te fizer feliz” ao invés de “seja um advogado”, “case-se antes dos 30”, “vista-se desta forma”. Ela tem razão. Vou tentar me lembrar disso quando estiver criando meus filhos...
No dia seguinte me mandei para Verona. O fato de ser a cidade palco de Romeu e Julieta faz com ela exerça um fascínio sobre mim. E valeu a pena pois a cidade é de uma beleza ímpar. O rio é tão limpo que é possível enxergar as pedrinhas no fundo. Muito verde (bem, nesta época vi muito amarelo...) e uma arquitetura primorosa. Se alguém me dissesse que estava na Áustria ou no interior da Escócia eu acreditaria. Primeira parada: casa da Giuletta. Bem, ela não existiu de verdade mas a família Capello (de onde vem o nome Capuletto) existiu e era uma das famílias que brigavam pelo poder em Verona após o término do domínio romano no século XIII. Aparentemente (o museu era paupérrimo de informações históricas e os funcionários monoglotas também não contribuíam muito) os séculos seguintes foram marcados por vinganças e brigas pelo poder, o que teria inspirado nosso querido Guilherme a escrever a peça. Não sei se uma família real serviu de inspiração para os Montechio.
Bem, depois de atravessar a horda de turistas que se aglutinava na entrada da casa dos Capello para tirar foto com a estátua de bronze da Julieta (diz a lenda que esfregar o seio direito da estátua traz um novo amor. Isto fez eu presenciar uma das cenas mais patéticas que vi até agora: uma fila de umas 30 ou 40 pessoas empolgadíssimas para esfregar o seio da estátua. Estou começando a ter medo da raça humana). O museu em si é um lixo. Não tem nada. É só a casa onde os Capello moravam na Idade Média. O grande atrativo era o quarto que a filha dos Capello morou e que serviu de set para o filme de Zefirelli. Eu gostei das passagens da peça em inglês e italiano que ornamentavam cada aposento.
Gastei o resto do dia me surpreendendo com a beleza da cidade, que fica ainda mais bela à noite, fui para o albergue, jantei e fui dormir, ou melhor, tentar dormir pois um infeliz que devia pesar uns 200 kilos roncava tão alto mas tão alto que devia estar atrapalhando o sono de todo o hemisfério norte...acho que não vou conseguir ter uma noite de sono decente até voltar ao Brasil.
Agora estou no trem rumo a Genova. Vou continuar com a pegada de uma ou duas noites por cidade até chegar a Barcelona na próxima semana. Um mexicano que conheci no albergue de Verona estava se queixando de quão cansativo viajar era...eu que o diga...
Nenhum comentário:
Postar um comentário