terça-feira, 13 de outubro de 2009

O Orgulho

É o maior de todos os venenos. Grande parte de nossas preocupações, de nossos medos, de nossa ansiedade e de nossas doenças são geradas pelo orgulho.

O que é o orgulho? É a noçao de que somos mais importantes do que os outros. Bem a grosso modo, é isso.

Daí advém a extrema necessidade de que as coisas da vida fluam de acordo com as nossas vontades. Advém, também, a carência que temos por amor, por atenção, afeto e cuidado. A contrariedade que sentimos quando algo foge ao nosso controle. O medo extremo de que não nos considerem como queremos. A ansiedade de controlar as variáveis incontroláveis do nosso destino. O paradoxo de termos necessidade de nos sentir "diferenciados" perante os outros mas ao mesmo tempo pertencentes a um grupo. O apego, gerador de sofrimento, a pessoas e objetos.A vaidade e a inveja.

Conversando com minha irmã, a quem presenteei com uma biografia de Santo Agostinho, talvez um dos maiores filósofos da História Pós Cristo, ela me contou uma compreensão deste autor sobre o pecado original.

Rapidamente, apenas para contextualizar, o pecado original é a expulsão de Adão (nome que significa,literalmente, terra trabalhável) e Eva do Jardim do Éden. Deus, ao criar Adão, lhe disse "Podes comer o fruto de todas as árvores deste jardim, com exceção da árvore da Vida e da árvore da sabedoria do bem e do mal". Ao que, posteriormente à criação de Eva, a partir do coração de Adão, uma serpente (animal que pode representar fecundidade ou inteligência) os convence a comerem da árvore da sabedoria do bem e do mal. O resto todos conhecem.

A Igreja difundiu a interpretação de que esse fruto representaria o sexo. E o pecado estaria no sexo.

Agostinho, entretanto, leu esta alegoria como sendo o pecado, aquilo que expulsa o homem do Éden e o afoga nas batalhas terrenas, a noção de que a sua vontade deve prevalecer frente à vontade divina. Uma das primeiras filhas do orgulho.

Eu estou sentindo na pele os efeitos do orgulho e tenho arduamente tentado lavar meu coração deste sentimento. Está sendo um trabalho muito difícil e que talvez leve muitas vidas, uma vez que identifiquei estar carregadíssimo da necessidade de me sentir importante.

O único remédio que tenho encontrado para isto é o desenvolvimento da consciência espiritual. Através dos valores que o estudo espiritual me traz estou conseguindo, bem devagarinho, me entregar às forças da Natureza e abrir espaço para a coragem, a compaixão e, quem sabe um dia, para o Amor.

Seja pela meditação, pelo estudo ou pela Religião, seja qual for o caminho escolhido, eu não vejo outra saída para um ser humano que não buscar sua comunhão com o divino. O afastamento, ou seja, a noção de individualidade que inevitavelmente faz brotar o orgulho é a origem, ao analisarmos bem no fundo de nossa alma, de todos os males.

Longe de querer professar algo ou convencer alguém de alguma coisa, não tenho preparo nem capacidade para isto. Tudo o que escrevo é meramente um relato empírico destes 30 anos que passei por este plano.

Termino com as palavras de um mestre muito querido, de quem tenho tentado aprender humildemente:

"Eu sou a onda, faça de mim o mar"

4 comentários:

Dd. Navarro disse...

Li mais de uma vez esse seu post e pensei sobre ele (principalmente no trânsito da segunda passada) em outras, lembrando de situações da minha própria vida.
Orgulho é com certeza um assunto conflitante! Desperta na gente a ambigüidade entre o desejo de ser mais digno e o medo de se desfazer de comportamentos e pensamentos estabelecidos. Penso que o orgulho nos afasta de verdade de muitas coisas e pessoas realmente importantes, mas talvez seu efeito mais danoso seja o de nos afastar de nós mesmos na medida em que contamina a parte sadia da nossa essência.
Também creio que a dificuldade que temos em abandonar orgulho esteja relacionada ao convincente disfarce com o qual ele se “veste”, explico: pra mim o orgulho nasce de um processo que potencializa de forma exacerbada o nosso instinto de sobrevivência, a busca desesperada do nosso psiquismo de nos proteger diante de uma ameaça que põe em risco nossa integridade, neste caso, emocional. E essa defesa, como qualquer outra, busca cada vez mais espaço dentro de nós compondo “verdades inconscientes e absolutas” sobre como agir para não sofrer.
Dizem que o caminho que você tem escolhido, o espiritual, é um caminho de futuro na busca pela quebra do orgulho, mas não posso afirmar isso com propriedade. O que eu posso dizer e esperar que colabore contigo nessa fase de vida é buscar, como uma forma de desmistificar esse poder protetor de muitos pensamentos e atitudes orgulhosas que a gente não consegue se livrar num movimento tão racional quanto emocional, identificar do que o orgulho te prometeu proteger e do que ele não deu conta de te guardar. Nesse sentido, porque não citar Jesus: “Conhecereis a verdade (neste caso a seu próprio respeito) e a verdade vos libertará” (não lembro qual a referência bíblica)...
Beijos.

Homem Oco disse...

eita, que delícia de comentário...é, eu também já me perguntei diversas vezes (e pra pessoas cujas opiniões eu absolutamente respeito) a origem do orgulho, acreditando tornar-se mais facil trabalha-lo. Recebi diversas respostas.

Quanto aos caminhos escolhidos, penso que seja talvez a coisa mais pessoal que exista. De repente, vc se vê envolvido em cada átomo naquele estudo, seja espiritual, filosófico, prático enfim...qualquer forma de autoreflexão é extremamente válida!

obrigado por proporcionar uma discussão deste nível!

bjos

Dd. Navarro disse...

Eu que digo....um discussão precisa de um tema pra se dar. E vc escolheu um dos bons, do ponto de vista da condição humana...!

Daíse disse...

Yes my friend....tenho percebido que também estou carregadíssimo disto e ha muuuiiito tempo. Tenho voltado ao meu lado espiritual(nao religioso) tentando me limpar deste orgulho que "usually" me tira do prumo!