terça-feira, 6 de outubro de 2009

Lá vamos nós de novo..a imprensa...

Muito interessante o comentário do Enxaqueca sobre o post A Manipulação no blog Homem Enxaqueca (http://homem-enxaqueca.blogspot.com/2009/10/manipulacao.html).

Ontem à noite eu faria um post com o tema do comentário, só não fiz porque era tarde e eu estava com sono. Cá então está o dito cujo.

Ontem à noite o convidado do Roda Viva foi a governadora do Rio Grande do Sul, Yeda Crusius (acho que é assim que escreve..). Quem acompanha minimamente o noticiário político sabe que ela anda, desde o início do seu governo, envolta em diversas acusações e suspeições de escândalos e nas últimas semanas está sendo preparado (ou já foi, nao sei) um encaminhamento de processo de impeachment para a Assembléia daquele Estado.

Eu, pelo o que acompanho, não tenho capacidade de analisar a situação dela. Não conheço as razões pelas quais ela está sofrendo este processo e os prós e contras do seu governo.
Mas o tema do post não é esse. O tema é o papel dos jornalistas lá presentes.

Na maioria do tempo, eles adotaram uma postura que claramente fomentava a discórdia e o constrangimento da entrevistada (já havia percebido isso na entrevista da Marina Silva). Perguntas com grau de reflexão prévio muito baixo (daquelas que vc em casa fica com vergonha alheia pelo jornalista) e formas de se colocar diversas vezes muito pouco gentis. Desrespeito pelo tempo que a entrevistada tinha para responder a pergunta anterior. A começar pelo Heródoto que, convenhamos, deveria estar curtindo sua aposentadoria no Havaí ou em Bertioga.

Me parece que um jornalista, principalmente alguém que atingiu certo patamar na carreira a ponto de ser convidado a participar do Roda Viva e entrevistar uma chefe de governo, é uma pessoa culta e esclarecida. Provavelmente uma pessoa com uma inteligência acima da média.Por que então demonstrar essa postura tão pobre e antidebate? A resposta que eu encontro é que o importante é gerar polêmica e assim notícia. Quanto maior for a saia justa do entrevistado, melhor, mais possivelmente ele se confunde e diga algo que, descontextualizado, possa virar notícia.

É uma pena. Poucos programas na TV aberta teriam esse potencial fomentador de discussões elevadas. Pórém seria necessário que fossem liderados por profissionais cujo desejo fosse esse: promover um debate rico e aberto. Na minha ingenuidade, se você convida um profissional para ser entrevistado (um político, um técnico, um artista ou quem quer que seja), é porque se considera as idéias daquela pessoa dignas de serem ouvidas e debatidas. Não um mero joguete de onde se possa criar notícias ou uma escada de onde o jornalista possa mostrar quão culto e crítico ele é. Triste.

Ainda considero que esse comportamento vai completamente na contramão do que os próprios jornalistas se orgulham: profissionais com preocupação social acima da média. Seria sim um belíssimo trabalho social simplesmente ajudar a promover debates ricos e práticos para a população. Orientações partidárias pessoais e necessidades gritantes de autoafirmação nada tem de social.

E o que dizer de outras áreas então, como esportes e cultura (áreas com as quais tenho mais afinidade)? Aí então aliamos o comportamento acima com falta de preparo e às vezes burrice mesmo. Esses programas de mesa redonda de futebol chegam a dar dor na alma de tanto absurdo que é dito (pelos jornalistas). As críticas culturais beiram o patético na maioria das vezes tal é a necessidade do jornalista em mostrar sua imensa capacidade crítica e conhecimento (?) do assunto.

Enfim, deveria haver uma imprensa para a imprensa. Profissionais que dedicariam suas vidas a constranger os jornalistas e expo-los à sociedade por qualquer palavra dita no calor do constrangimento Ou por tentar a todo custo mostrar que eles (os jornalistas dos jornalistas) são mais entendidos e mais críticos do que os jornalistas na sua própria área de atuação. Você acha que eu viajei né? É que eu sou mais culto do que você, pobre leitor semi analfabeto...

2 comentários:

Enxaqueca disse...

De fato, a baixa qualidade do jornalismo está tão presente que achar exemplos é fácil:

1. "Sem publicação de lei, Honduras continua sob estado de exceção": É a não notícia virando notícia. Os caras realmente estão publicando que "nada aconteceu".

2. "Sarney defende fim de pagamentos acima do teto": Esse é ótimo - a notícia como marketing. Depois de aprovado o cidadão vai lá e diz que é contra. E a mídia coloca em evidência.

3. "Filho de Sarney teria dito que coloca quem quiser no Senado": Como assim, "Teria dito"? É a possibilidade da notícia virando notícia? E se não disse? Não tem nenhuma responsabilidade com a reputação do cara?

Não tem um mínimo de investigação, de cuidado, de responsabilidade, de isenção.

Eu quero nascer um peixe na próxima vida... Vou me irritar menos.

Masamune disse...

Por essas e por outras que cada vez assisto menos noticiário, escuto pouco rádio, etc...

E o quanto disso tudo decorre do ego dos envolvidos, da necessidade de ser melhor que o outro, de deixar o outro em situação desconfortável?