Ai ai, lá vou eu me expor em um assunto polêmico novamente...
Bom, antes que eu seja tachado de um imbecil completo, deixa eu melhorar a frase que dá título ao post: eu não sou a favor do ato de abortar. Para falar a verdade, não faço a menor idéia de qual seria minha posição caso estivesse em uma situação de gravidez indesejada. Eu sou a favor, sim, de que o Estado não interfira na opção individual das pessoas. Você é contra o aborto, muito bem. Você quer abortar, eu defendo que haja opções seguras (sejam particulares ou públicas) para que você possa evoluir com sua decisão.
O que acontece hoje é uma mistura de conceitos cristãos com o papel do Estado. Por que cristãos? Porque para as tradições cristãs, a vida começa na concepção. Ou seja abortar, sob esta ótica, é um assassinato. Apenas como contraponto, a Ciência ainda não concluiu quando começa a vida. Para o judaísmo e o islamismo, por exemplo, a vida começa no nascimento.
Na minha visão, o Estado deve ser absolutamente "arreligioso" e "apaternal". Eu não acredito que caiba ao Estado regulamentar o comportamento de todos os seus cidadãos de acordo com uma determinada ética, tampouco "cuidar e orientar", através de proibições, as pessoas como um pai ou uma mãe. Acredito que o papel do Estado seja promover a melhor e mais harmoniosa vida em sociedade, protegendo o direito individual.
A maior parte dos argumentos a favor da proibição que ouço são de cunho religioso / espiritual ou paternalista (temos que orientar as pessoas de que isto é errado..). Errado para quem? Hoje, da forma como é, milhares e milhares de mulheres, que optam em não ter aquele filho, se encontram em um apartheid social, Se você tem condições financeiras, é um procedimento simples. Se não, o risco é enorme.
Voltando um pouco para o cunho espiritual. Eu vejo que um pilar fundamental de qualquer doutrina é compaixão. A compaixão passa pelo respeito. Respeitar a decisão de outra pessoa e fazer o que for possível para que aquela decisão traga o menor dano é a maior forma de compaixão que eu conheço. Dizer àquela pessoa o que é certo ou errado me parece um tanto presunçoso.
Apenas para terminar, deixo dois argumentos que li este fds na Revista Alfa em uma entrevista com o ex-presidente FHC (não, o assunto não era aborto): para nós brasileiros, a moral tem de ser de todos. Não é bastante para mim acreditar no que acredito, é preciso que todo mundo tenha a mesma crença e mais, a mesma postura. E ainda não estamos prontos para levar este tipo de assunto para o Congresso. A fisiologia, hipocrisia e caça aos votos certamente teriam prioridade na agenda dos parlamentares. É necessário, segundo FHC (e eu assino embaixo), discurtirmos muito ainda na esfera civil.
Bem, eu estou fazendo a minha parte...
5 comentários:
Muito bem escrito, parabens!
Eu assino embaixo.
Perfeito.
Vai na linha do não concordo com uma só palavra do que dizes, mas defendo até a morte o seu direito de dizê-lo.
Só discordo de uma coisa do que você disse - que você não sabe se é contra ou a favor. Tenho certeza que se você tivesse que tomar HOJE a decisão de fazer ou não um aborto, você responderia de alguma forma.
Parte do que eu considero amadurecer é me preocupar em me conhecer, saber como eu responderia as coisas hoje, e saber que tenho direito rever minha posição no futuro se ela não combinar mais com as minhas crenças.
adriana, legal, valeu pelo apoio.rs!
diogueira, tb agradeço seu comentário! e vc tem toda razão, eu teria aái algo como 50, 60 dias para decidir né..e não decidir já seria uma decisão!
abs
Lá vou com meus comentários longos...
Em princípio sou a favor de todas as liberdades individuais. Drogas, aborto, tudo deveria ser liberado. Num mundo ideal...e aí o problema, não vivemos no mundo ideal e o Brasil está muito longe disso.
Quanto às drogas, vejo o FHC ( que respeito muito) cometer um engano ao defender a liberação. Desconfio que por ser um careta de carteirinha, ele não tenha noção do dano que causa o uso desenfreado de drogas. Só quem já conviveu com drogados pra entender que não é uma decisão simples. Veja bem, sou a favor em princípio, mas tem que discutir muito antes de liberar.
Como acho que não é simples a questão do aborto. Sem dúvida o argumento religioso só deveria valer na esfera da Igreja de cada um. Eu não tenho que seguir um preceito de uma crença que não compartilho e o Estado não deve dar preferência a uma determinada religião. Ponto.
Por outro lado, não deveria ser fácil. Deveria ser possível abortar com segurança, mas não pode ser fácil. Pois no Brasil ( bandalheira !!!) aborto fácil viraria método anticoncepcional rapidinho...
Abortar é sim matar uma vida. Uma decisão que tem consequências sérias para os pais, o feto, outros parentes. Pode ter consequencias na saúde da mulher também. Ou seja, não é brinquedo.
Abortar deveria ser evitado ao máximo. Não proibindo, mas com esforços pesados de conscientização das pessoas (principalmente as mulheres) sobre métodos contraceptivos, etc. Pois uma menina de 16 anos que decide abortar está escolhendo o que lhe parece naquele momento o menor de dois males. Para dar a ela o direito de tomar uma atitude como essa a sociedade precisa ter feito um esforço enorme para evitar que ela tenha que passar por isso. Pois não é uma boa decisão. É a menos pior.
Portanto, acho que para discutir a liberação do aborto, precisaria discutir em que condições isso seria disponibilizado à população. E não vejo o Brasil capaz de ter uma discussão assim, infelizmente. Ou ainda, há vários outros temas mais urgentes na frente desse.
fala parceiro! obrigado por se dispor a escrever! sei que dá preguiça..
acho que o importante é isso, discutirmos..concordo que o argumento de que um efeito colateral provavel é o aumento do numero de abortos é muito forte...
agora, é osso a qtde de anuncio da petrobras, do minha casa,minha vida, dos programas do alckmin e o caraio e vemos muito pouco sendo anunciado sobre o efeito devastador do aborto ou das drogas...
Postar um comentário