domingo, 6 de fevereiro de 2011

A escolha é de cada um

"Dias difíceis me fizeram o que eu sou"
Flavia Wenceslau - Rumo das Flores


Esses dias tive uma conversa muito franca com uma pessoa amada. Essa pessoa está navegando por águas desconhecidas e, como qualquer ser humano sensato e equilibrado, está receosa com a escolha que fez. Eu lhe disse que não tinha dúvida do sucesso que ela alcançaria porém, na minha visão, ela só alcançaria este sucesso se passasse pelo o que ela tem que passar.

Aqui no Ocidente não existe uma figura que é bastante comum nas culturas orientais, a do mestre espiritual. Até há padres, pastores e afins mas, pelo pouco que conheci, não enxerguei nessas figuras um verdadeiro mestre. O papel de um  mestre é apenas apontar um caminho que aquele determinado indivíduo pode percorrer. Só isso. Quem deve trilhar o caminho é a própria pessoa. A escolha entre percorrer ou não cabe apenas à própria pessoa.

Para nós ocidentais, talvez os papéis que mais se aproximem disto sejam os dos pais. Infelizmente, a maioria dos pais não está pronta para exercer a função de real orientador, a de trabalhar para que os seus filhos sigam caminhando pelas próprias pernas, encontrem a expressão da sua integralidade e enfrentem os desafios inerentes ao crescimento com serenidade, paciencia e amor. A necessidade de proteger, de transferir sonhos e projetos pessoais para os filhos, de realizar ações que deveriam ser realizadas pelos filhos, de evitar o confronto em prol de um pseudoamor fazem um trabalho inverso no processo de aprendizado destes indíviduos. Talvez essa possa ser uma das explicações pelas quais alguns pais precisam criar os filhos pelo resto das suas vidas.

Alguns dão a sorte de encontrar grandes guias pelo caminho. Um amigo verdadeiro e leal, um chefe íntegro, um conjuge, um mestre na sua religião...infelizmente, para a maioria de nós, resta ir juntando os pedaços de informação que vamos colhendo ao longo da vida.

Eu, confesso, cada vez mais venho descartando opiniões muito veementes, muito cheias de certeza. Tenho pensado que estas opiniões valem, na melhor das hipóteses, para aquele que a profere (isso quando o discurso não difere da prática, o que ocorre com 95% de nós...)

Não existem atalhos. Pelo o que venho observando da vida, cada um é responsável por construir sua própria caminhada. Como uma vez ouvi de uma outra pessoa muito amada, o caminho pode ser solidário mas é a coisa mais solitária que existe.

Termino parafraseando alguém de quem, às vezes, consigo compreender algum ensinamento: "quanto mais você empurra uma pessoa em direção a uma porta, mais ela se afasta desta porta"


ps: o primeiro parágrafo foi apenas para dividir uma experiência pessoal que achei pertinente ao conteúdo do texto. Não tenho a menor pretensão de me considerar mestre ou guia de nada. Se tivesse, já seria o maior indicativo de quão longe estaria desta condição.

7 comentários:

Masamune disse...

Pusta coincidência, ontem comecei a ler um livro da minha filha, chama-se Rangers, é estilo Senhor dos Anéis. Logo no início, 5 jovens orfãos são escolhidos por diferentes mestres para serem seus aprendizes e o livro acompanha esse treinamento.

Fiquei pensando como isso realmente faz falta. Não conheço ninguém que tenha um mestre ou alguém que o ajude em seu desenvolvimento. Concordo que padres e afins não contam.

Os pais realmente tem suas limitações, ainda mais em tempos politicamente corretos/bunda moles como o de hoje, onde muitos pais temem desagradar os próprios filhos e acabam fazendo todas as vontades destes...

Vc não me deixar trabalhar mesmo, estão bons os posts...abraço

Cesar disse...

interessante mesmo, é uma coisa da cultura oriental...eu concordo que os pais não conseguem ser essa figura, só tenho minhas dúvidas se, mesmo conceitualmente, eles deveriam ser...acho que os pais tem muitas (e outras) funções que talvez possam ser até excludentes a essa. não sei. pode ser, quem sabe, é verdade!

Anne disse...

Belo post, meu irmão. Em minha opinião, faz parte do nosso processo de amadurecimento espiritual (não no sentido religioso, mas no daquilo que não é cotidiano, comum, ligado às trivialidades) e intelectual escolhermos nossos mestres.

É verdade que o contato talvez não se dê de maneira tão próxima quanto talvez no Oriente. Não sei porque não conheço a fundo a cultura oriental. Mas até mesmo a falta de proximidade pode ter um lado muito positivo: a gente pode construir um mestre idealizado com os retalhos do que encontramos de melhor. Beijos.

Homem Oco disse...

masa, depois me diga se vale a pena a leitura...desnecessário dizer que este tema me interessa demais...

ni, muito bom ponto, nunca tinha pensado por este lado...realmente escolher de quem ouviremos as orientações me parece um passo muito importante do amadurecimento de cada um...

gordo, valeu pelo comentário!

Masamune disse...

Acabei de ler o livro ontem, é pra criança/adolescente, muito básico para o seu nível...hehehe

Nessa perspectiva mais oriental tem um que gosto muito que é o Musashi. Não vou me alongar aqui, vc acha fácil a sinopse na Internet.

Eu admiro bastante esse lado dos samurais de treinamento, disciplina, código de conduta, honra.

Claro que não dá pra levar ao pé da letra, mas a parte da disciplina me parece muito importante. Abratz

Diogo disse...

Se você não leu portões de fogo, faça isso imediatamente...

O Rei é o cara.

caio disse...

cara, tu me emprestou uma vez..eu nao lembro porque nao empolguei na leitura..vou tentar ler mais uma vez..mais de uma pessoa se amarrou nesse livro...

abs