terça-feira, 5 de outubro de 2010

De que material você é feito?

Lembro que no Exército havia um exercício que consistia em montar uma ponte. É isso mesmo: imagine um lego gigante, com peças de 200, 300 kilos compostas por um material flutuante que, postas juntas, formam uma passadeira que permite à tropa atravessar rios e lagos.

Nós, os soldados, tinhamos como tarefa montar essas passadeiras em tempos cada vez mais curtos. Obviamente havia um método e um treinamento antes de irmos para a água de verdade. Resumidamente, o pelotão era dividido em pequenos grupos de 4 ou 5 soldados e cada grupo carregava uma peça, a deixava no local exato para que o grupo seguinte encaixasse o seu pedaço e assim sucessivamente, até que toda a ponte estivesse montada. Se um membro do grupo fizesse corpo mole ou apenas fingisse estar fazendo força, os membros restantes tinham que colocar mais força para que a peça chegasse ao seu objetivo. O tenente comandante, em hipótese alguma, permitia que o grupo parasse para discutir. Era imprescindível colocar a peça no seu lugar no tempo correto, nem que isso acarretasse apenas um soldado a carregar.
Se a aquele pedaço nao fosse colocado, o pelotão inteiro pagava altos castigos (eu disse o pelotão, não apenas o grupo responsável).

Eu nunca entendi essa postura do tenente. Se um filho da puta fizesse corpo mole, eu não podia simplesmente parar e xingar o cara? E se eu nao tivesse força suficiente para carregar a peça com um homem a menos? Não era justo todos pagarem o pato porque um membro de um pelotão de 30 homens nao cumpriu a sua parte. O tenente nunca deu explicação nenhuma sobre isto. Simplesmente era assim.

Confesso que algumas vezes eu coloquei menos força do que podia, por preguiça ou por cansaço. Certamente alguém precisou compensar a minha parte.

Hoje, mais de 10 anos depois, eu acho que estou começando a entender o tenente.

A vida, com todas as suas belezas (e certamente ela as tem de montão), é um campo de batalha. Ás vezes, é possível alguém carregar mais peso pra você, às vezes não. O problema é que quando um membro do grupo, por preguiça ou cansaço, coloca menos força do que poderia, alguém vai ter que pagar o pato. Ou então, o pelotão inteiro (e todas as tropas que viriam a seguir) fica sem poder atravessar o rio.

Nenhum comentário: