terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Esses dias presenciei um diálogo interessante. Estava em uma cantina, almoçando com uns amigos. Um deles é o que eu consideraria "onde eu quero chegar" como ser humano. Puta cara legal. Trasmite uma paz absurda sem ser aqueles malas metidos a zen. Sabe se divertir com responsabilidade. Tem uma puta sabedoria. O outro é um cara mais racionalzão. Gente finíssima também mas penso que ele sofre com seu excesso de conhecimento. É muito crítico, até por ser bastante inteligente, e essa crítica excessiva o deixa pesado em alguns momentos. É daqueles que sempre analisam tudo (putz, eu me reconheço demais nele às vezes..)

Vou tentar reproduzir o diálogo o mais próximo do que realmente foi, sem alterar nenhuma palavra (dentro do que minha memória permitir)

Estavamos falando sobre terapias, meditação, essas coisas, quando o amigo racional (vou chamá-lo de Mente, só pra facilitar) perguntou ao outro (vou chama-lo de Paz):

Mente: Você acredita em Deus?

Paz: Não entendi a sua pergunta...

M: Como assim não entendeu? Você acredita em Deus?

P: Isso eu entendi. Não entendi porque você está me perguntando uma coisa tão óbvia como essa.

M: O que? Você acreditar em Deus é óbvio?

P: Deus é óbvio.É como você me perguntar se eu acredito na Lei da Gravidade.

M: Não acho que essa analogia seja válida.

P: Vou tentar explicar meu ponto de vista. Você não flutua, certo? Se você jogar um pedaço de pão da mesa, ele cai.Aí, um dia, te disseram que isso se chama Lei da Gravidade. Que um físico sentado embaixo de uma árvore levou uma maçãzada na cabeça e desenvolveu uma teoria acerca disso. Disse que há uma força que atrai os corpos para o centro da Terra, que essa força varia com a massa dos corpos e bla bla bla..

M: hum..

P: E isso te disseram lá 4a série...e você aceitou. Por que você aceitou? Porque não te interessa se foi a maçã ou não que caiu, qual árvore era, se a teoria sobre a força de atração existe conforme Newton falou é exata ou não. Pra você o que interessa é que você não flutua. E pronto. Você está em paz com o fato de não flutuar, não está?

M (dando umas risadas): É, acho que estou..

P: É a mesma coisa. Se tivessem te dito depois que, na verdade, não é como Newton descreveu. Que é uma outra coisa que atrai os corpos para baixo. Ou então que são os corpos que naturalmente se jogam pra baixo. Provavelmente, ia ter uma galera estudando as diferentes explicações. Uma galera defendendo seu ponto de vista sobre o dos outros. E assim iríamos...mas isso não alteraria o fato em si. Você não flutua.
Pra mim não me interessa se foi a Natureza através da seleção natural, uma inteligência criadora sobrenatural ou um velho barbudo sentado no trono que criou aquela cachoeira que tem perto do meu sítio. Que criou o amor que eu sinto pelo meu filho. Que fez os tons avermelhados que vejo no por do sol quando vou à praia. Um noturno de Chopin.O que me importa é que eles existem. É só prestar um pouquinho de atenção que percebe-se uma ordem cósmica. E eu estou em paz com isso.


Depois de alguns segundos em silêncio, nós pedimos mais sardella.

2 comentários:

Fred disse...

pqp!
que animal...
São essas lições cotidianas as que mais ensinam!
Um grande abraço!
Fred

Homem Oco disse...

é meu brother..o foda é trazer esses conceitos da cabeça para o coração...

abração