quarta-feira, 18 de março de 2009

É bom começar a se coçar...

Ontem rolou um evento no trampo. O convidado/palestrante foi o presidente do IPEA, Marcio Pochmann. O tema da conversa era a relação capital x trabalho na atualidade.

Um dos papéis do IPEA é fornecer previsões macroeconômicas das décadas futuras. Para isso, entre outras análises, é fundamental um estudo da sociedade, como expectativa de vida e organização dos meios de produção.

Me chamou a atenção como alguns pontos de vista por ele trazidos já faziam parte de conversas que tenho com pessoas próximas.

Segundo ele, estamos passando por uma fase de mudanças profundas na organização social. Há exatos 100 anos, a expectativa de vida do brasileiro médio era inferior a 40 anos. Além disso, a maioria do trabalho disponível era no campo ou nas poucas fábricas que começavam a aparecer. Trabalhos fundamentalmente braçais. Daí deriva-se o fato das pessoas iniciarem a vida profissional muito jovens, aos 9, 10 anos de idade. Já estava-se entrando no segundo quarto de vida e a necessidade de estudo (leia-se preparo) era muito pouca.

Pois bem. Os anos foram passando. Veio a industrialização. A urbanização. Os avanços tecnológicos. A expectativa de vida aumenta a cada década. O trabalho deixa de ser braçal para transformar-se em intelectual. A necessidade de preparo é cada vez maior.

A previsão do IPEA para 2049 é que tenhamos uma expectativa média de aproximadamente 100 anos de vida. Isso significa que eu, hoje aos 30 anos, quando tiver chegado nos 70, ainda terei 30 anos de vida pela frente. Situação absolutamente diversa da dos meus avós. A lei, que prevê aposentadoria após 35 anos de trabalho, será absurda, uma vez que as pessoas trabalharão por 50, 60 anos durante as suas vidas (fora o fato de que a Previdência não conseguirá manter uma massa de desempregados por tanto tempo).

Ainda dentro deste raciocínio, o fato já dito da migração do trabalho do corpo para o intelecto somado ao advento das novas tecnologias está fazendo com que a barreira, antes muito clara, entre o tempo dedicado ao trabalho e o tempo dedicado à vida pessoal passe a inexistir. Passamos horas pensando no trabalho ou trabalhando, efetivamente, em horas que, teoricamente, deveríamos estar descansando.

Com tudo isso exposto, o Marcio terminou com algumas conclusões (e onde vejo diversas semelhanças a opiniões pessoais):

- não fará mais sentido as pessoas escolherem suas carreiras aos 17, 18 anos, visto que o horizonte de tempo dedicado a ela será muito maior do que era há 30 anos.

- Preparo (Educação) passa a ser um elemento constante, durante toda a nossa vida. Pessoas de 50, 60, 70 anos serão vistas nas escolas muito mais frequentemente.

- Será maior o número de pessoas que escolherão carreiras baseadas no que gostam efetivamente de fazer, pois ficará cada vez mais difícil ter uma vida suportável tendo um trabalho chato.

- Será muito comum termos 3, 4 carreiras diferentes ao longo da vida.

Quero terminar com dois comentários: se você que está lendo esse post tem menos de 50 anos, todas essas previsões aplicam-se a vc também. E, quando seu pai comentar "porque eu comecei a trabalhar aos 14 anos...", responda "é, mas eu vou trabalhar até os oitenta..."

3 comentários:

Masamune disse...

A última frase foi a melhor: " É, mas eu vou trabalhar até os 80..."

- Quanto à carreira, escolher aos 18 anos já é uma bobagem, tanto que no 1o mundo a galera muitas vezes sai pra viajar nessa idade.

- Por outro lado, se vc for ter 3-4 carreiras, tanto faz, dá pra mudar depois.

Um aspecto muito importante também é que você vai ter que guardar muito mais dinheiro, pois vc vai viver muito, e vai precisar pagar por isso. Nada garante que vai ter trabalho pra vc quando ficar velho.

Homem Oco disse...

é, bom ponto. porém, está havendo uma alteração na pirâmide demográfica, um envelhecimento da população pois a taxa de natalidade está despencando (fenomeno já iniciado no 1o mundo), o que significará que a ode à juventude, forçosamente, diminuirá, posto que a oferta de mão de obra jovem diminuirá drasticamente...esse assunto rende!

Rivotril disse...

Gostei da parte que fala que as pessoas vão fazer o que mais gostam, o mundo será melhor. Tem um angulo curioso, se vamos viver mais a necessidade de coisas no curto prazo (principalmente o consumismo imediato) vai diminuir, vamos ter muito tempo para curtir e tb vamos precisar de uma boa grana para sobreviver como disse o Masamune.