quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

We want you

"There's those thinking, more-or-less, less is more
But if less is more, how you keeping score?"
Society, Eddie Vedder

Eu li hoje que as taxas de juros para compra de automóveis caíram para algo perto de 55% ao ano. Isso significa, grosseiramente, que você compra um carro e, se não puder pagar à vista, paga 55% do valor total do carro, ao ano ,para que alguém te empreste a grana e você possa sair da loja dirigindo seu possante.

O seu desejo de sair com o carro imediatamente te custa mais da metade do valor do bem, por ano.

Exceção feita às reais emergências, o que faz alguém topar pagar mais da metade do valor do carro a cada 12 meses, a título de juros, por 60 meses ou mais, se em pouco menos de 24 meses o carro poderia ser adquirido à vista?

Sem dúvida, existem diversas normas macro e microeconômicas por trás. Porém, há uma regra dourada da Economia e que é extensível a várias esferas da Natureza e que, a mim, é a melhor explicação: a lei da oferta e da procura. Tão simples, tão poderosa.

A nossa organização social tem alguns pilares muito sólidos.Um deles é o consumo, se não for o principal.

Para 95% da população, a principal atividade realizada durante a vida é o trabalho remunerado. Se perguntadas sobre a razão do seu atual emprego, as pessoas trarão como resposta mais provável a segurança material (incluindo este que vos escreve), em primeira instância. O que significa isso? Sobreviver, obviamente, mas mais que isso: poder pagar bons estudos para nossos filhos que, no futuro, serão outros alimentadores da roda (sem nenhuma crítica aqui); suprir a nossa carência emocional com bons bens materiais; nos auto- indulgir com conforto extra;saciar nossa falta de auto estima competindo com os outros por posição social; massagear nosso ego; apaziguar nossa ansiedade e vazio existencial através das novidades entre outros.

Uma observação rápida indica que este padrão acontece independentemente da classe social analisada.

Eu realmente não quero entrar neste tema. Tudo o que escrevi aqui foi para introduzir tema do post: a responsabilidade dos profissionais de Marketing neste processo.

Como todo mundo sabe, o ser humano é um bixo complexo. Temos sonhos, anseios, vaidades, senso de responsabilidade, vontade de agradar, de sermos queridos etc etc etc..há um sem-fim de características emocionais em nossa espécie. O que nem todo mundo sabe é que os profissionais responsáveis pelos Deptos. de Marketing das grandes empresas têm, entre as suas principais atribuições, descobrir essas, digamos, fendas em nosso comportamento para vender a sua marca.

Eu trabalhei por 06 anos em Deptos. de Marketing de multinacionais. Mais alguns em Vendas. Alguns dos meus melhores amigos ainda trabalham em Marketing. Pude acompanhar, pessoalmente e por relatos, pesquisas de comportamento caríssimas feitas com antropólogos, psicólogos e afins, cujo objetivo era alinhar a marca ou o produto a profundos desejos das pessoas, desejos esses, muitas vezes, inconscientes.

Quer entender bem o ser humano? Analise o slogan das marcas mais vendidas no seu país.

Grosseiramente falando, grupos de pessoas muito bem instruídas, inteligentes e bem pagas dedicam as suas vidas a desenvolver mensagens cujo alvo é o nosso inconsciente e cuja mensagem é "consuma"..."consuma"..."consuma"...

Não sou contra o consumo. Ele gera empregos. Faz com que as pessoas tenham mais conforto. Se esforçem para crescer e assumir responsabilidades.
Tenho, sim, diversas ressalvas quanto ao desejo. Este pode ser uma grande armadilha geradora de ansiedade e depressão.

Também não estou querendo cuspir no prato que comi durante anos. Muito menos apedrejar os profissionais que estudam o comportamento humano e o utilizam para hipertrofiar a roda do consumo. Cada um sabe o que faz com a sua vida (ou deveria saber) e eu não sou ninguém pra dizer o que é certo ou errado. Muito difícil dizer onde começa o fio do novelo. Mas que, no fundinho do coração deste blogueiro prepotente, dá uma tristeza saber disso, dá...

"Porque a vida é agora"

"Conecting people"

"Dá vida à vida"

"Keep Walking"

"Porque se sujar faz bem"

"Bem estar bem"

"Just do it"

2 comentários:

Anônimo disse...

Cara,

eu concordo que o esforço para que as pessoas consumam é desenfreado, agressivo, sustentado por muito investimento em pesquisa, e tudo o mais que você disse.

Porém, existe uma resposta para tudo isso que é: "Não, obrigado, não tenho interesse".

Por que não dizer isso? Para mim, esta é a grande pergunta. Para mim, a resposta é que somos tão inseguros com quem somos realmente que não podemos dizer com certeza que "não temos interesse".

E se uma parte minha se identificar com aquilo? E se uma parte minha tiver aquela necessidade?

Para mim este, mais do que todos os outros, é o mal da sociedade atual. As possibilidades são tão grandes que não conseguimos dizer quem somos, pois temos em volta um milhão de possibilidades de quem podemos ser.

Masamune disse...

Ou será que estamos vivendo os primeiros passos de uma era em que o ser humano tem tempo de se questionar?

E será que é agora que o ser humano terá chance de se desenvolver em um plano mais espiritual, sem estar amarrado à teologia de uma religião, e portanto com uma infinidade de possibilidades?

Será que o desafio é o de ser verdadeiramente livre?