Essa lista é só uma brincadeira, espero que os mais puristas (leia-se: malas sem alça) não fiquem com raiva de mim. Resolvi classificar as bandas de rock de acordo com o nível espiritual da música que produzem. É isso que vc leu aí. Não, não fumei nada, é só uma brincadeira como disse no começo do parágrafo.
Funciona assim: a escala começa com a infância, ou seja, uma música gostosa, leve, que diverte mas não tem muita profundidade. Deixando claro que não significa, de forma alguma, que quanto mais alto na escala, melhor o conjunto. O que gradua determinada banda é a capacidade de sua música fazer refletir, interiorizar e incentivar a autoobservação e, fatalmente, promover algum tipo de descoberta de si próprio.
Também importante ressaltar que trata-se apenas do meu gosto. Se você pensa diferente, deixe um comentário ou escreva um blog...(detalhe: enquanto escrevo esse post, ouço Sandy e Junior...)
Enfim, premissas colocadas, vamos à lista:
Infância: The Beatles e o punk rock.
Confesso que não gosto da música dos Beatles. Admito que historicamente os caras tem uma importância fudida e conheço gente muito entendida de música que é super fã. Mas, pra mim, Beatles é um som bobo, quase infantil (mesmo a fase mais psicodélica deles) que promove prazer e divertimento, e só. Portanto, espiritualmente falando, seria uma música para ficar na infância.
Com relaçao ao punk rock, gosto demais de Ramones, por exemplo. Conheço pouco de Sex Pistols ou The Clash mas o que conheço acho bem legal. Apesar de ter uma pegada contestadora (o que os classificaria na Adolescência), a maioria dos temas é meio bobinho, fora que é possível tocar toda a discografia do Ramones com 03 acordes. Por isso, a galera do punk fica na infancia também, ao lado do quarteto de Liverpool.
Adolescência: Iron Maiden, Guns, Black Sabbath, Metallica,Rage Against, Pearl Jam, Nirvana, Alice in Chains, Red Hot e todas as bandas de heavy metal e do grunge.
O heavy metal e o grunge, de uma forma geral, já tem uma pegada mais questionadora, com temas e estéticas mais adultas que o punk. Também musicalmente considero mais rico (há solos incriveis e letras absurdamente bem escritas...)
A sensação que tenho ao escutar este tipo de som é a de sair correndo, gritar pra caramba em um mega show, dar porrada em alguém ou fumar um baseado em um fim de tarde na praia....sensações tipicamente adolescentes, portanto, coloco essas bandas sensacionais aqui na minha escala espiritual...
Idade adulta: Rolling Stones, The Doors, Sublime, Radiohead, Led Zeppelin
Esses caras que escrevi acima tem a manha. Acho que eles conseguem navegar tranquilamente em águas leves e tranquilas e, quando querem, ir bem fundo na natureza humana. Talvez essa seja a melhor traduçao para alguém que já passou da adolescência. Se fosse fazer uma analogia com as bebidas, essa galera seria uma Guinness, uma boa Ale ou qualquer puro malte cujo envelhecimento ultrapasse os 12 anos.
Maturidade: Pink Floyd
Definitivamente, essa banda é a que melhor se aprofunda na alma do ser humano.As letras, as melodias, as propostas são perturbadoras e de uma beleza que até hoje me espanta. Eu chego a meditar com as músicas deles.Continuando com a analogia das drogas, seria o LSD. Pra mim, nessa escala de brincadeira, os caras são o top da maturidade.
Acima do Pink Floyd, só a música clássica e o jazz...mas isso já é assunto para um outro post...
sexta-feira, 24 de junho de 2011
sexta-feira, 17 de junho de 2011
quarta-feira, 15 de junho de 2011
Então...então você acha que consegue descrever o céu do inferno?
céus azuis da dor?
Você consegue descrever um campo verde de um frio trilho de aço?
Um sorriso de um véu? Você acha que consegue ?
Conseguiram que você trocasse seus heróis por fantasmas?
Cinzas quentes por árvores?
Ar quente por uma brisa fria?
Conforto frio por mudança?
Você trocou um papel coadjuvante na guerra por um papel principal em uma cela?
Como eu gostaria que você estivesse aqui...
Nós somos apenas duas almas perdidas nadando em um aquário, ano após ano
Correndo sobre o mesmo velho chão e o que encontramos? Os mesmos velhos medos...
Eu queria que você estivesse aqui...
tradução livre de uma música aí de uma bandinha qualquer..
céus azuis da dor?
Você consegue descrever um campo verde de um frio trilho de aço?
Um sorriso de um véu? Você acha que consegue ?
Conseguiram que você trocasse seus heróis por fantasmas?
Cinzas quentes por árvores?
Ar quente por uma brisa fria?
Conforto frio por mudança?
Você trocou um papel coadjuvante na guerra por um papel principal em uma cela?
Como eu gostaria que você estivesse aqui...
Nós somos apenas duas almas perdidas nadando em um aquário, ano após ano
Correndo sobre o mesmo velho chão e o que encontramos? Os mesmos velhos medos...
Eu queria que você estivesse aqui...
tradução livre de uma música aí de uma bandinha qualquer..
domingo, 12 de junho de 2011
Allons enfants de la Patrie, le jour de gloire est arrivé..
Eu pago pau pra França. Sério, acho um país fantástico, apesar de ter estado pouco por lá e não conhecer muito da sua cultura. Poderia listar inúmeros motivos pra isso: a Brigitte Bardot, a Juliete Binoche, o Platini, o Zidane, outras mulheres francesas, os vinhos da Borgonha, a Carla Bruni (ops, ela é italiana...), os vinhos de Champagne, mais mulheres francesas, os vinhos de Cognac etc etc etc..
Mas a razão que me fez ter vontade de expor publicamente minha admiração pela nação onde come-se o Royale com queijo é outra. Li no Estadao de hoje que o governo francês acabou de proibir a menção pública (em veículos de comunicação) dos nomes Facebook e Twitter, caso não estejam no contexto adequado.Explico.
Segundo a matéria, há uma lei vigente desde 1992, que proibe a chamada propaganda clandestina. Os nomes das empresas - e isto vale para todas, inclusive gigantes francesas como a Renault e a Peugeot-Citroen - só podem ser citados nos veículos de comunicação caso seja uma notícia pertinente àquela empresa. Por exemplo, é permitido dizer "o presidente da Renault acaba de assinar um acordo com o governo...." mas não é permitido dizer "os franceses estão consumindo mais carros do que na década passada, principalmente da Renault...", neste caso, o correto seria "...principalmente carros de empresas francesas...".
A inclusão dos nomes Facebook e Twitter nesta lei vai proibir dizeres como "Siga nossa página no Facebook" ou "o Jornal Tal está no Twitter..". Os legisladores entenderam que isto configura uma propaganda clandestina (não comercializada) e isto prejudicaria a concorrência.
Eu gostei. E bastante.
Lembrei de um projeto de Lei que tramita pela União Européia (não sei se já foi promulgado), proposto pela França, que exige que toda foto que for utilizada em publicidade, e cujos modelos tiverem tido suas imagens melhoradas por Photoshop, deve ter os dizeres "Esta foto foi alterada digitalmente." O objetivo é tentar conter um pouco a escalada dos padrões de beleza inalcançáveis que estamos criando para nós mesmos.
Eu não sou contra rede social. Se usada com bom senso pode até ser bacana. Mas acho importante os mecanismos de regulação da sociedade ficarem atentos para que uns poucos empresários não tenham vantagem competitiva desleal, já que nós não estamos sabendo utilizar a dose com parcimônia...
Mas a razão que me fez ter vontade de expor publicamente minha admiração pela nação onde come-se o Royale com queijo é outra. Li no Estadao de hoje que o governo francês acabou de proibir a menção pública (em veículos de comunicação) dos nomes Facebook e Twitter, caso não estejam no contexto adequado.Explico.
Segundo a matéria, há uma lei vigente desde 1992, que proibe a chamada propaganda clandestina. Os nomes das empresas - e isto vale para todas, inclusive gigantes francesas como a Renault e a Peugeot-Citroen - só podem ser citados nos veículos de comunicação caso seja uma notícia pertinente àquela empresa. Por exemplo, é permitido dizer "o presidente da Renault acaba de assinar um acordo com o governo...." mas não é permitido dizer "os franceses estão consumindo mais carros do que na década passada, principalmente da Renault...", neste caso, o correto seria "...principalmente carros de empresas francesas...".
A inclusão dos nomes Facebook e Twitter nesta lei vai proibir dizeres como "Siga nossa página no Facebook" ou "o Jornal Tal está no Twitter..". Os legisladores entenderam que isto configura uma propaganda clandestina (não comercializada) e isto prejudicaria a concorrência.
Eu gostei. E bastante.
Lembrei de um projeto de Lei que tramita pela União Européia (não sei se já foi promulgado), proposto pela França, que exige que toda foto que for utilizada em publicidade, e cujos modelos tiverem tido suas imagens melhoradas por Photoshop, deve ter os dizeres "Esta foto foi alterada digitalmente." O objetivo é tentar conter um pouco a escalada dos padrões de beleza inalcançáveis que estamos criando para nós mesmos.
Eu não sou contra rede social. Se usada com bom senso pode até ser bacana. Mas acho importante os mecanismos de regulação da sociedade ficarem atentos para que uns poucos empresários não tenham vantagem competitiva desleal, já que nós não estamos sabendo utilizar a dose com parcimônia...
quarta-feira, 8 de junho de 2011
...em um tempo recheado de escândalos, as vezes tenho a sensação de que há não esperança..
...a maioria dos textos que leio buscam a autoafirmação do autor.."eu sei o que presta..todo o resto é lixo.."
...os que deveriam conduzir a nação, são os piores exemplos possíveis, dignos de envergonhar Ali Babá..
...os que deveriam trazer informação e senso crítico à sociedade, parecem cada vez mais vendidos e pobres de espírito..
que bom que ainda escrevem textos como o que copio aqui...talvez pelo autor nao ser político ou jornalista..
"Eu sou do tempo em que "a vida começava aos 40". Um dia perguntamos o segredo desse limiar ao nosso professor de História. Aos 40, disse, a sexualidade enfraquece e, sem o aguilhão do desejo, o sujeito inicia uma nova vida dedicada às grandes causas morais e religiosas. Aos 14 anos, eu que só vivia o desejo, mas estava longe dos 40, deixei essa lembrança na gaveta dos esquecimentos até que, nestes meus 70 e poucos, reli O Velho e o Mar, de Ernest Hemingway.
Era um menino de 20 anos quando li esse livro pela primeira vez. O herói, um velho chamado Santiago, pescador azarado que sonhava com leões, embora morasse numa cabana nas praias brancas e ensolaradas de Cuba, não me impressionou. Frequentador da bela praia de Icaraí, então virgem dessa vergonhosa poluição que a assola há mais de 40 anos, eu fiquei mais surpreendido com as imagens dos leões e com a batalha do velho contra o gigantesco e precioso marlim, o maior e mais magnífico peixe que jamais pescou em toda sua vida mas que, depois morto e atado ao barco, é abocanhado por vorazes e traiçoeiros tubarões. Moço, eu li o livro e ignorei a parábola; velho, eu reli o livro e compreendi a fábula em sua bela e tenebrosa densidade. O marlim destroçado somos todos nós que temos dentro de nossas vidas tubarões, meninos e Santiagos com força para morrer de pé, lutando por melhores histórias.
Hoje, eu vejo que uma das gratificações de uma longa vida é poder revisitá-la. É ser capaz de revê-la nos seus esplendores, medos, dúvidas e angústias. E qual não foi a minha surpresa quando me encontrei - agora velho - com o velho Santiago do velho Hemingway e revivi essa pescaria fracassada. Quantas vezes questionei-me se, alguma vez, pesquei um marlim. O que significa pescar um gigantesco e desejável marlim para um velho? Seria mandar tudo às favas e começar de novo? Mas como começar, se chegamos ao fim da linha? Seria ter o seu trabalho reconhecido? Seria ganhar uma loteria que pudesse ampliar o seu modesto patrimônio de professor 20 vezes em quatro anos? Seria receber de volta os presentes que distribuiu ao longo de sua vida? Seria viver a sua solidão em pleno diálogo consigo mesmo, procurando esquecer as perdas e abafar a devastadora dor de ver a pessoa amada perder a alma?
Por outro lado, o que é para alguém no fim da vida testemunhar a sua maior obra ser destruída por tubarões? Esses tubarões que, invisíveis, vivem à nossa volta e nos obrigam a descobrir a inveja e o ressentimento no lugar da fraternidade e do companheirismo? Mas o que fez Santiago quando chegou à sua praia com a carcaça inútil do peixe com o qual havia lutado a sua tremenda batalha? Essas batalhas que todo velho luta diariamente contra a ingratidão, contra o abandono, contra o amor roubado pela vida e pelos deuses, contra a perda de algum ente querido, enterrado ainda quente no frio da terra?
O velho Santiago não abjurou sua vida ou amaldiçoou sua profissão ou renegou o seu destino. O que ele fez foi dormir e sonhar com leões. E amar seus filhotes e brincar com eles, tal como eu amo as pessoas que estão à minha volta.
* * * *
Desta Niterói onde vivo, envio o meu abraço e as minhas mais calorosas felicitações pelas 80 décadas de Zuenir Ventura. Mestre do jornalismo, ele escreveu uma reflexão exemplar sobre a fonte de sua juventude. Pois, quando se viu idoso, descobriu-se também mais jovem. Porque a juventude está na redescoberta, no revisitar, no reviver e, para nós, que amamos as letras, no reler e no reescrever. É delas que vem o sopro perene da vida que apaga, pois os livros terminam, mas também acendem algumas velas. Quem acha que a vida termina (e começa - mas como começar sem amor?) aos 40; quem se sente liquidado aos 60, não sabe de nada. Zuenir, aos 80, sonha com leões e, no Brasil, sonhar com leões tem a ver com a domesticação da ganância, com a busca da sinceridade, com a ultrapassagem do atraso e da ignorância. Com o saber o que é, afinal de contas, suficiente para cada um de nós.
* * * *
Esses ritos de passagem de idade - 1, 5, 10, 15, 20, 40, 80, etc... - reúnem uma primeira e uma última vez. Por isso, devem ser celebrados intensamente com quem nos dá amor e por meio desses testemunhos nos despertam o sentimento de plenitude e de coragem de existir neste mundo feito de tanto gozo e sofrimento.
Celebrações são como as rimas e as simetrias das pinturas, do bom cinema, do amar sem culpa, dos bons pratos e da grande música. Simetrias que acentuam o início, o meio e o fim de alguma coisa e, com isso, realizam o contraste necessário com a vida que assusta porque não tem começo ou fim. Esses são momentos de pleno sentido, pois as festas têm sempre uma razão e, mesmo bagunçadas, elas começam e terminam.
Num mundo totalmente desequilibrado, injusto, frenético, louco e cruel para tantos, as celebrações inventam pausas, desvendam olhares, promovem comentários, anedotas e risos que são o nosso trunfo (senão o triunfo) contra a finitude: essas causas perdidas. Mas, como dizia Frank Capra, são essas causas perdidas - igualdade, liberdade, justiça, amor, altruísmo e, sobretudo neste Brasil onde somos assaltados por altos funcionários federais em rede com justificativa ideológica, honestidade! - as únicas que valem o bom combate. Capra falou das causas perdidas num revolucionário filme de 1939"
Texto de Roberto da Matta, postado em http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20110608/not_imp729346,0.php
...a maioria dos textos que leio buscam a autoafirmação do autor.."eu sei o que presta..todo o resto é lixo.."
...os que deveriam conduzir a nação, são os piores exemplos possíveis, dignos de envergonhar Ali Babá..
...os que deveriam trazer informação e senso crítico à sociedade, parecem cada vez mais vendidos e pobres de espírito..
que bom que ainda escrevem textos como o que copio aqui...talvez pelo autor nao ser político ou jornalista..
"Eu sou do tempo em que "a vida começava aos 40". Um dia perguntamos o segredo desse limiar ao nosso professor de História. Aos 40, disse, a sexualidade enfraquece e, sem o aguilhão do desejo, o sujeito inicia uma nova vida dedicada às grandes causas morais e religiosas. Aos 14 anos, eu que só vivia o desejo, mas estava longe dos 40, deixei essa lembrança na gaveta dos esquecimentos até que, nestes meus 70 e poucos, reli O Velho e o Mar, de Ernest Hemingway.
Era um menino de 20 anos quando li esse livro pela primeira vez. O herói, um velho chamado Santiago, pescador azarado que sonhava com leões, embora morasse numa cabana nas praias brancas e ensolaradas de Cuba, não me impressionou. Frequentador da bela praia de Icaraí, então virgem dessa vergonhosa poluição que a assola há mais de 40 anos, eu fiquei mais surpreendido com as imagens dos leões e com a batalha do velho contra o gigantesco e precioso marlim, o maior e mais magnífico peixe que jamais pescou em toda sua vida mas que, depois morto e atado ao barco, é abocanhado por vorazes e traiçoeiros tubarões. Moço, eu li o livro e ignorei a parábola; velho, eu reli o livro e compreendi a fábula em sua bela e tenebrosa densidade. O marlim destroçado somos todos nós que temos dentro de nossas vidas tubarões, meninos e Santiagos com força para morrer de pé, lutando por melhores histórias.
Hoje, eu vejo que uma das gratificações de uma longa vida é poder revisitá-la. É ser capaz de revê-la nos seus esplendores, medos, dúvidas e angústias. E qual não foi a minha surpresa quando me encontrei - agora velho - com o velho Santiago do velho Hemingway e revivi essa pescaria fracassada. Quantas vezes questionei-me se, alguma vez, pesquei um marlim. O que significa pescar um gigantesco e desejável marlim para um velho? Seria mandar tudo às favas e começar de novo? Mas como começar, se chegamos ao fim da linha? Seria ter o seu trabalho reconhecido? Seria ganhar uma loteria que pudesse ampliar o seu modesto patrimônio de professor 20 vezes em quatro anos? Seria receber de volta os presentes que distribuiu ao longo de sua vida? Seria viver a sua solidão em pleno diálogo consigo mesmo, procurando esquecer as perdas e abafar a devastadora dor de ver a pessoa amada perder a alma?
Por outro lado, o que é para alguém no fim da vida testemunhar a sua maior obra ser destruída por tubarões? Esses tubarões que, invisíveis, vivem à nossa volta e nos obrigam a descobrir a inveja e o ressentimento no lugar da fraternidade e do companheirismo? Mas o que fez Santiago quando chegou à sua praia com a carcaça inútil do peixe com o qual havia lutado a sua tremenda batalha? Essas batalhas que todo velho luta diariamente contra a ingratidão, contra o abandono, contra o amor roubado pela vida e pelos deuses, contra a perda de algum ente querido, enterrado ainda quente no frio da terra?
O velho Santiago não abjurou sua vida ou amaldiçoou sua profissão ou renegou o seu destino. O que ele fez foi dormir e sonhar com leões. E amar seus filhotes e brincar com eles, tal como eu amo as pessoas que estão à minha volta.
* * * *
Desta Niterói onde vivo, envio o meu abraço e as minhas mais calorosas felicitações pelas 80 décadas de Zuenir Ventura. Mestre do jornalismo, ele escreveu uma reflexão exemplar sobre a fonte de sua juventude. Pois, quando se viu idoso, descobriu-se também mais jovem. Porque a juventude está na redescoberta, no revisitar, no reviver e, para nós, que amamos as letras, no reler e no reescrever. É delas que vem o sopro perene da vida que apaga, pois os livros terminam, mas também acendem algumas velas. Quem acha que a vida termina (e começa - mas como começar sem amor?) aos 40; quem se sente liquidado aos 60, não sabe de nada. Zuenir, aos 80, sonha com leões e, no Brasil, sonhar com leões tem a ver com a domesticação da ganância, com a busca da sinceridade, com a ultrapassagem do atraso e da ignorância. Com o saber o que é, afinal de contas, suficiente para cada um de nós.
* * * *
Esses ritos de passagem de idade - 1, 5, 10, 15, 20, 40, 80, etc... - reúnem uma primeira e uma última vez. Por isso, devem ser celebrados intensamente com quem nos dá amor e por meio desses testemunhos nos despertam o sentimento de plenitude e de coragem de existir neste mundo feito de tanto gozo e sofrimento.
Celebrações são como as rimas e as simetrias das pinturas, do bom cinema, do amar sem culpa, dos bons pratos e da grande música. Simetrias que acentuam o início, o meio e o fim de alguma coisa e, com isso, realizam o contraste necessário com a vida que assusta porque não tem começo ou fim. Esses são momentos de pleno sentido, pois as festas têm sempre uma razão e, mesmo bagunçadas, elas começam e terminam.
Num mundo totalmente desequilibrado, injusto, frenético, louco e cruel para tantos, as celebrações inventam pausas, desvendam olhares, promovem comentários, anedotas e risos que são o nosso trunfo (senão o triunfo) contra a finitude: essas causas perdidas. Mas, como dizia Frank Capra, são essas causas perdidas - igualdade, liberdade, justiça, amor, altruísmo e, sobretudo neste Brasil onde somos assaltados por altos funcionários federais em rede com justificativa ideológica, honestidade! - as únicas que valem o bom combate. Capra falou das causas perdidas num revolucionário filme de 1939"
Texto de Roberto da Matta, postado em http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20110608/not_imp729346,0.php
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