quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Entre Suzuki e Heidegger

Shunryu Suzuki nasceu no Japão no comecinho do século 20. Em meados da década de 50, foi para os Estados Unidos para difundir a linha filosófica da qual era profundo conhecedor: o Zen.

A palavra japonesa Zen vem da palavra chinesa Chan que, por sua vez, tem sua origem na palavra sanscrita Dhyana, cujo significado seria algo entre Sabedoria e Concentração.

Os praticantes do Zen tem em seu ritual essencial sentar-se em silêncio. Entre outros objetivos, busca-se desenvolver total concentração na atividade presente. Se você está comendo, apenas coma. Se você está fazendo cocô, concentre-se apenas nesse ato.

Derivando-se deste fato, um dos aspectos fundamentais do Zen é o relacionamento. Quando você está totalmente concentrado no ato que está acontecendo, você pode, efetivamente, criar um relacionamento verdadeiro com seu interlocutor, pois sua atenção está 100% focada nele. Seja este interlocutor um outro ser humano, um animal, um objeto ou até mesmo o mar, os praticantes do Zen buscam desenvolver sua percepção de uma forma que sempre estejam completamente atentos a ele. A partir daí, é possível começar a entender um outro conceito, o Inter-Ser, que seria a rede de influências de uns com os outros e que nos une a todos.

Só a atenção completa pode nos mostrar a verdadeira essência de nós mesmos e da realidade que nos cerca.

Suzuki-san foi um dos organizadores do San Francisco Zen Center e até hoje é reconhecido como um dos maiores mestres Zen dos ultimos tempos. Faleceu no começo da década de 70.

Martin Heidegger era alemao, nascido no final do século 19. Filósofo, é considerado, ao lado de Hurssel, de quem fora assistente, um dos pais da Filosofia Fenomenológica, que viria a se desenvolver em uma abordagem da Psicologia.

Entre os diversos aspectos que esta teoria traz, um dos principais é o dasein, traduzido como algo parecido com ser-no-mundo, ou seja, não existe o ser (até existe, mas está além da nossa compreensão) e sim o ser inserido em um contexto, sempre relacionado a alguma coisa.

A abordagem fenomenológica busca a obtenção de um conceito de relacionamento chamado Eu-Tu, onde não há sujeito e objeto e sim dois sujeitos se relacionando com total atenção um ao outro, sem julgamentos e analises, simplesmente se relacionando. Apenas quando conseguimos este grau de atenção com um interlocutor, seja um outro ser humano, um animal, um objeto ou até mesmo o mar, é que começamos a entrar verdadeiramente na essência da nossa realidade e do que nos cerca.

Um terapeuta fenomenológico deve buscar levar seu paciente a um processo terapeutico amadurecido, onde a angustia inicial não mais seja um cobertor da verdadeira questão a ser trabalhada. Somente a partir daí, é possivel iniciar um processo de diálogo e desenvolvimento de uma relação integral do paciente consigo mesmo e, a partir daí, uma relação integral do paciente com o que o cerca, ou o Inter-Ser.

Heidegger morreu em meados da década de 70.

Há indícios que o mestre japonês e o filósofo alemão trocaram diversas correspondências.

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