quinta-feira, 24 de setembro de 2009

A liberdade

Me lembrei de uma conversa que tive com um belga na viagem à Europa que fiz em 2006. O cara era gerente de uma loja do Carrefour e tinha largado o emprego para viajar.Ele estava mochilando há uns 05 meses e eu há uns 02. Estávamos na Eslovênia, dividindo uma cerveja de madrugada no quintal do albergue onde nos hospedávamos. Durante uns 10 minutos, apenas uma frase foi emitida.Por ele:

 - Backpacking is hardwork...

Eu, em silêncio, fiquei pensando na frase,sem entender exatamente o que ele tinha querido dizer.

Copio aqui um trecho do meu diário escrito aproximadamente 02 meses depois desse "diálogo":

"Sentado na rodoviária de Salamanca. 13:30h. 14:30 parte meu ônibus rumo a Santiago de Compostela. Chegada prevista para 20:45h. Depois de 4 meses, 6:15h em um ônibus apertado é uma eternidade. Mas vamos lá, é por isso que estou aqui. Esse é o trabalho, lutar com você mesmo, ser disciplinado, paciente, tolerante, arranjar energia sabe-se lá de onde. Lembrei da panamenha que conheci em Granada. Ela também já estava há uns quatro meses mochilando e só voltaria para o Panamá em 25/12. Ela estava procurando um lugar para ficar em Granada pois tinha decidido não mais mochilar. Estava cansada.

É isso.



Todos com os quais me correspondo, todos, bem talvez com exceção do meu irmão, parecem pensar que eu estou vivendo uma aventura linda. A palavra “férias” aparece freqüentemente nos e-mails que me mandam. Quando digo que estou em uma cidade ou indo pra tal lugar, a resposta é sempre “que delícia” ou “que vidão hein ?” ou “ai, como eu queria férias de cinco meses” ou “aproveita que tá acabando hein..”.

Não os culpo. De verdade. É a vontade de ser gentil com o impulso quase inevitável dos humanos de criar fantasias. E também não estou me queixando. Estou adorando minha viagem. Teria feito tudo de novo mas por motivos absolutamente diferentes dos imaginados pela maioria das pessoas.

Parafraseando um belga (o Sven, falo dele aqui no diário, em Ljubljana), mochilar é hard work. Só que é um trabalho bem diferente do que estamos acostumados. Não baseia-se no cumprimento de tarefas.Não há ninguém para te orientar e te cobrar.Não há remuneração.Não há reconhecimento. Não há punições. É só você. É sobre você. É para você. As recompensas podem ser fantásticas mas é hardwork. É um trabalho de 24 horas por dia (lembro de ter lido que um repórter se disse surpreso ao saber que Ibsen só escrevia 5 horas por dia:


- Mas é muito pouco! Achei que o senhor trabalhasse mais.


- Meu jovem, eu escrevo 5 horas por dias mas eu trabalho as 24 – respondeu o escritor norueguês.).


Você toma decisões 24 horas por dia (digo 24h porque é muito comum você tomar decisões no meio da madrugada). Ninguém vai te dizer se você está certo ou errado. Ninguém vai compartilhar os resultados destas decisões.

Vou tentar contextualizar o que quero dizer.

Eu (e a grande maioria dos mochileiros que encontrei, detalhe importante, viajando sozinhos) larguei um bom emprego (bem, bom para os parâmetros comuns da sociedade). Morava razoavelmente bem com meu irmão.Amigos e família. Conforto. Calor. Amigas “coloridas”. Decidi deixar isso de lado por um tempo (bem, o emprego e o apartamento fui obrigado a me desfazer por razões óbvias). E para quê?

E esse é o coração da questão.

São as decisões que você toma aqui, são as atitudes que você tem aqui, são as atividades que você faz aqui que definem o para que!! Você está, literalmente, em um país estrangeiro com um monte de dinheiro em suas mãos (pelo menos no começo da viagem), um monte de gente jovem que você acaba conhecendo, uma oferta de diversão infinita, 5 meses com as 24 horas do dia absolutamente a seu dispor. As possibilidades são imensas, assim como são as tentações:


- acordar cedo ou dormir mais um pouco ? Nenhum chefe vai te demitir se você levantar às 11h...


- ficar dentro do orçamento ou ceder àquela tentaçãozinha de uma comidinha melhor, um alberguezinho melhor ou uma baladinha, afinal é sábado à noite e você está em Barcelona...
- ir embora do museu que está te contando a História daquele país depois de 2 horas lá dentro, quando seriam necessárias mais 2 horas? Quem freqüenta museus sabe como a cabeça, as costas e as pernas se sentem após 2 horas...
E as viagens noturnas? 8,9,10,17 (de Narvick a Estocolmo fiquei 17 horas no trem) horas viajando na madrugada, afinal viajando à noite economiza-se o dinheiro do albergue. Chegar no destino às 6 da manhã depois de 9 horas viajando em um ônibus e só poder fazer o check in às 15h? E perder dinheiro? Uma vez em Valencia perdi 70 euros, orçamento de dois dias. O que fazer, readequar os hábitos por uns dias ou tocar pra frente? E as ofertas de baladas?Todo santo lugar tem gente de férias te chamando pra sair. Ir na balada ou dormir? Poxa, mas essa australiana que ta indo é tão gostosinha..que fazer? E as escolhas de destino? Bilbao ou Salamanca? Quero ver o Guggenhein mas se for pra lá depois pra voltar para Portugal fica muito longe. E quanto tempo fico nessa cidade? Poxa, não agüento mais dormir três noites por cidade há quase 1 mês, acho que vou ficar aqui mais duas...mas aí não poderei ir a Sevilla. Que faço?

Igualzinho à vida.


Não estou dizendo que a viagem está sendo um inferno, muito pelo contrário, só quero deixar claro que é uma situação bem diferente de estar 05 meses em férias"

O tema do post não é a viagem (e muito menos o belga...) mas sim a liberdade. O quanto é foda termos liberdade. Assumirmos o timão do nosso barco. E quantos de nós estão preparados para isso?


Quis iniciar o post com esse trecho do diário pois só agora, quase três anos depois, eu entendi o que escrevi e o que o belga tinha dito. Só depois de ter passado pela experiência de ter tido meu próprio negócio, ter voltado ao mercado e me encontrar agora desempregado estou entendendo o que significa ter liberdade. E não me refiro, absolutamente, ao lado romântico da palavra mas ao aspecto cruel.

O hardwork do belga, muito mais do que o cansaço físico, referia-se ao cansaço emocional de ser tirado de um contexto onde podemos depositar as decisões da nossa vida nas mãos de outros entes (pais, patrões, valores sociais) para mergulhar, mesmo que temporariamente, em um onde você é 100% responsável pela gestão das únicas duas coisas que realmente importam: tempo e energia.

O fato de trabalhar em uma empresa, um órgão público ou qualquer outra organização onde você não seja o dono, além da pseudosensação de segurança, te dispensa de decidir o que fazer com o seu tempo. Alguém pensa para você. Se der merda, sempre há em quem colocar a culpa. Mesmo nos cargos mais altos, onde você deve dar as diretrizes, o seu campo de escolha é razoavelmente limitado, uma vez que as macro diretrizes já foram definidas. É muito comum as pessoas gastarem mais tempo e energia pensando como se proteger de possíveis falhas do que criando efetivamente.


Lembro quando eu tinha o restaurante diariamente eu precisava responder à seguinte pergunta "bom, e o que eu vou fazer hoje? Onde vou investir minha energia?". Pode parecer absurdo mas era muito angustiante.


Exatamente como me sentia na viagem.


Não sei se é um aspecto cultural, não sou antropólogo, mas a sensação que tenho é que não somos criados para assumir a responsabilidade de termos a nossa vida (novamente: tempo e energia) à nossa disposição.Talvez este seja um sintoma da imaturidade de um povo e crescer, quem sabe, significa passar por este estágio.

terça-feira, 22 de setembro de 2009

sacanagem hein..

Na Livraria Cultura dá pra sentar e passar a tarde inteira lendo. Sem comprar o livro. Você simplesmente devolve o livro à prateleira e vai embora. Muito legal.

Eu tenho feito bastante isso. Nas ultimas semanas, fui umas três vezes lá. Comecei a ler um livro sobre um australiano que conhece um guru na Índia. Fiquei amarradão. Estava na página 200 e pouco. Ontem fui lá para terminar.

Tinham vendido o bendito livro...e só tinha aquele exemplar...

Sacanagem hein...

Se você for comprar um livro lá, certifique-se de que não se trata de filho único...alguém pode ficar sem saber o final dele...

Talvez as coisas estejam melhorando mesmo..a passos de cágado mas estão...

Ontem rolou a entrevista da Marina Silva no Roda Viva da TV Cultura. E eu confesso que fiquei impressionado.

Apesar da tentativa exagerada dos jornalistas presentes (tinha um tal de Paulo Moreira Leita da Revista Época que era um mala sem alça) de criar polêmica, ela conseguiu se colocar muito bem, na minha opinião.

Eu não tinha conhecimento das suas posições como política. Como ela mesmo disse após um jornalista se mostrar surpreso com certas opiniões da senadora, agora há maior espaço para ela dizer o que sempre disse. Eu me incluo no grupo dos que desconheciam seu discurso.

Assuntos como política economica, aborto, pesquisas científicas (principalmente transgênicos e células tronco), descriminalização da maconha, religião x Estado, fontes de energia, crise do Senado foram abordados de forma bastante madura, de um modo que é raro ver entre políticos brasileiros.

E é claro o tema central que ela tem defendido: a sustentabilidade. O que pouca gente sabe - eu incluso - é que este tema abrange um escopo muito maior do que a questão ambiental. Envolve princípios econômicos, culturais, sociais, políticos. Ela deu exemplos de frentes de trabalho durante a sua gestão à frente do Ministério do Meio Ambiente - como licenças para hidroeletricas, estradas na Amazônia, fazendas de gado em áreas preservadas - de forma muito sensata aliando, dentro do possível, os objetivos da sustentabilidade de longo prazo com a realidade prática do mundo atual.

Acho pouco provável que ela vença uma possível corrida presidencial em 2010. Também não estou dizendo que ela seria minha candidata, precisaria entender mais das suas propostas e alianças políticas mas, a princípio, acho que ela já está trazendo uma coisa muito boa: a elevação do nível da agenda.

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Será que tô ficando tiozinho?

Eu moro perto do Shopping Higienópolis. É muito comum eu cruzar o Shopping quando quero ir a determinados lugares. Hoje, voltando pra casa, cruzei pelo Shopping.

Descendo uma escada rolante, vi um enorme tapume (grande mesmo, deve ter uns 5 metros de altura por 10 de largura) em frente a uma loja da Forum. O tapume anunciava que a loja estava em reforma e reabriria em breve. A imagem que ornava o tapume era de uma modelo que não passava dos 13 anos de idade. Havia diversas imagens da mesma modelo, algumas em trajes sociais e algumas em trajes mais casuais. Era bem constrangedor ver a figura de uma criança (por mais que as coisas estejam diferentes hoje em dia, uma pessoa de 13 anos de idade ainda tem traços da fisionomia de uma criança) vestida em trajes sociais e fazendo olhar de mulher segura.

Eu não sou consumidor do mercado da moda mas também não sou alienado. Sei que as modelos estão cada vez mais novas e 13 anos é uma idade bem comum nesta carreira. Mas também sei que o Marketing de marcas como a Fórum trabalha profundamente com o lado aspiracional das pessoas.

Qual o publico alvo da Forum? Adolescentes do sexo feminino? Pelo que me lembro, quando eu tinha 15, 16 anos queria desesperadamente parecer adulto.Será que os valores mudaram tanto em 15 anos? Ou será pessoas de 30 anos? Será que alguém aos 30 anos se identifica em uma criança de 13? Acho estranho. Enfim, seja qual for, qual o principal beneficio prometido pela campanha? O sonho da juventude eterna? Por que nao contratar uma modelo de 20, 21..não seria menos cruel? É muito esquisito. Eu não estou acima dos valores culturais e também quero ser jovem o maior tempo possível mas acho que há limites que o bom senso deveria colocar. Eu sinceramente fiquei constrangido ao ver aquela menina no tapume. Sei lá, se eu visse um moleque de treze anos posando para fotos de uma marca de roupas que eu consuma eu não me identificaria nada.

Também comecei a pensar na vida da menina. Desde cedo tendo sua imagem e seu ego hiperinflados. Como será a cabeça dela? E os pais dela? E os profissionais que lidam com ela? Enfim, já to aqui pirando o cabeção.

Não quero entrar na discussão da ode à juventude pois o assunto mereceria um outro post mas que há algo estranho na nossa cultura, há...

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

haja sabedoria II

"O tempo é o maior tesouro de que um homem pode dispor. Embora inconsumível o tempo é o nosso melhor alimento.

Sem medida que eu conheça, o tempo é contudo nosso bem de maior grandeza. Não tem começo, não tem fim.

Rico não é o homem que coleciona e se pesa num amontoado de moedas, nem aquele devasso que estende as mãos e braços em terras largas. Rico só é o homem que aprendeu piedoso e humilde a conviver com o tempo, aproximando-se dele com ternura. Não se rebelando contra o seu curso. Brindando antes com sabedoria para receber dele os favores e não sua ira.

O equilíbrio da vida está, essencialmente, neste bem supremo.

E quem souber, com acerto, a quantidade de vagar com a de espera que deve pôr nas coisas, não corre nunca o risco de buscar por elas e defrontar-se com o que não é. Pois só a justa medida do tempo, dá a justa 'atudeza' das coisas"

Raduan Nassar

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Mais da trip...

Quarta-feira, 16 de agosto de 2006

Não dormi nada essa noite. Nossa, acho que fiquei no pior albergue possível. Vou enumerar os pontos negativos:

. Álcool proibido

.Quartos “single-sex”

.Leituras da Bíblia ao longo do dia ( o albergue chama-se The Shelter..)

.21 euros por noite

.Quartos fedidos e muito iluminados

.Gente mal educada

.Francês bizarro e roncador no meu quarto

Bem, Amsterdam é nota 6. A cidade, com exceção do Red Light, é bonita. Os canais, as ruas, as casas são bonitas. Mas o Red Light é meia boca, feio, sujo, fedido, maconheiro, traficante, prostitutas por toda a parte.

Com relação à maconha: a proposta é interessante, descriminalizar o consumo. Com isso, há uma série de lugares que vendem pequenas quantidades e a galera fuma lá ou na rua. Esses lugares, os Coffee Shops, explodiram pela cidade (são mais de 150), então é nego fumando maconha por todo o lado. É muito estranho, pois o consumo de álcool é proibido em locais públicos mas o de maconha não (bom, até faz sentido...)

As prostitutas: nada demais! A rua Augusta é muito mais emocionante. Tem um monte de mulher em umas cabines com cortina vermelha se exibindo para quem passa na rua. Vi umas gatas mas a maioria é bem meia boca!

Conheci poucas atrações na cidade. Fui apenas ao Rijksmuseum. Valeu! Vários quadros magníficos, entre os quais A Criada da Cozinha (Kitchen’s Maid) de Johannes Vermeer, The Marrey Fiddler de Gerard Van Hostroof, Jeremias Lamentando o Incêndio de Jerulasem de Rembrandt e, é claro, o Nightwatch tb do Rembrandt. Apesar do Nightwatch ser celebrado como a grande obra dele, achei o quadro mais impressionante do que tocante.

Não fui aos outros museus pois eram caros, tinham filas e eu descolei uma companhia legal pra ficar jogando conversa fora. O Rodrigo. Moleque sangue bom!
No final do primeiro dia cheguei no albergue pra esquentar um macarrão e vejo um maluco trocando idéia com um casal chinês em um inglês bem brasileiro. Comecei a conversar com eles e logo saímos para tomar uma breja. Puta cara bacana! Recém formado em Direito, morando há três meses em Paris, morrendo de saudades de casa, goiano!Fazão de Chico Buarque e de filosofar sobre a vida. Conversamos muito mesmo. Ás vezes sentávamos no jardim do albergue e ficávamos 3, 4 horas conversando.

Ontem foi bacana! Compramos umas brejas no supermercado e fomos para a beira do canal para beber (que crime!). Tomamos bem umas quatro latas e vimos umas figuras ímpares. Primeiro sentou uma estudante alemã de arquitetura que não quis muito papo, depois um japa caladão também e um casal mineiro.
Mas o grande prêmio vai para um tiozinho alemão que sentou para fumar seu baseadinho. Figuraça! Cabeludão, brincão na orelha. O cara ganha a vida fazendo relógio cuco!!Relógios cuco!!Sensacional!


Agora estou voando da Holanda para a Dinamarca. Eu sou, de longe, a pessoa mais feia a bordo...


Cheguei em Copenhagen. O mundo, em certos aspectos, é muito injusto. Deixei minhas coisas no albergue, comi um sanduba e peguei um “cruzeiro” pelos canais da cidade! Que cidade linda! Que mulheres fantásticas! Estou agora em Nyhavn (novo porto) sentado tomando uma Tuborg. Ta um dia lindo, em uma cidade deslumbrante...por que algumas pessoas nascem na Dinamarca e outras na Vila Brasilândia ? Não é justo, não faz sentido.

Um moleque acabou de levar uma picada de abelha...bem-feito, quem mandou ser dinamarquês!

Tô um pouco cansado, mas to feliz!


Sexta-feira, 18 de agosto de 2006

12h! Ta um puta sol! Parei pra descansar em um parque antes de entrar na National Gallery. Andei pra caramba, preciso de 10 minutos antes de encarar o museu.


Ontem foi um dia legal! Fui no museu Nacional. Fiquei umas três horas lá aprendendo a História do país. Quanta guerra, deus do céu. Depois ranguei um KFC e fui até Cristiania, um lugar onde uma galera tentou montar uma sociedade alternativa nos anos 70. O lugar é uma bosta, feio, sujo, fedido, nego vendendo droga a rodo...mas valeu o rolê! Ah, antes fui na igreja do Nosso Salvador. Subi altão na torre (são quase 100 metros) onde há uma vista espetacular da cidade. A igreja também é linda (o altar e o órgão são lindos!Por que será que os nomes dos arcanjos terminam em el ? Gabriel, Rafael, Michael, Uriel e Jeremiell ? Enfim...)


Cheguei no hostel às 20h bem cansado. Antes passei pela Royal Library, prédio estaile!

Essa noite sonhei com a Paula de novo. Que merda! Pior é que eu sei que é só fantasia. É incrível a dificuldade em vivermos o presente. Ou estamos perdidos em alguma fantasia do passado ou alguma ilusão do futuro! Estou tentando focar no agora mas ta difícil... bom, ta rolando Seu Jorge no mp3 e tem uma borboleta linda aqui...vou tirar uma foto...




19h! To no Burger King tomando um milkshake. Que zoado! Não tenho onde dormir amanhã. Acho que vou pra Oslo, assim durmo no busão.Também não tenho lugar pra dormir em Oslo no domingo. Cara, que merda! Acabei de ver um casal se beijar. Eu tinha tudo. Um emprego legal, uma namorada linda, amigos...três anos depois eu tô em uma cidade estranha, a 10.000 km de casa, não vou pegar ninguém pelos próximos 4 meses, sem amigos, cansado, sem lugar pra dormir, comendo mal, gastando meu dinheiro...como eu vim parar aqui ???


Domingo, 20 de agosto de 2006



19h! To em Oslo.Cansado pra caramba! Os quatro dias em Copenhagen e a viagem noturna quebraram minhas pernas. O problema é ficar comendo sanduíche e pizza. Faz cinco dias que só como isso. A Escandinávia é muito cara!! Pra comer em restaurante gasta-se 20, 25 euros! O jeito é esperar chegar na Estonia. Estou pensando em ficar uns bons 10 dias nos Bálticos só pra comer e dormir bem, afinal ainda vou ter mais dois meses pela frente depois de lá...

Hoje foi punk! O busão saiu 22h de Copenhagen e chegou às 6h da manhã em Oslo. Devo ter dormido umas 2 horas ao todo. Quando cheguei não conseguia trocar dinheiro. Tudo fechado. Com fome, apertado (10 coroas norueguesas pra mijar), com sono, sem lugar pra dormir...teve uns 10 segundos que quase me desesperei mas segurei a onda. Resolvi ir andando até o albergue mais próximo.

No caminho parei num 7-eleven. Paguei um café com leite e um donut com cartão de crédito (se bem que saiu quase 4 euros). A moça que trabalha lá me disse que se não conseguisse trocar dinheiro por ser domingo, os 7-eleven trocam...fiquei mais tranqüilo. Hehe, tentei marcar de sair com ela (uma marroquina baranguinha mas muito legal) mas não rolou. Bem, no estado em que me encontro, nem uma mendiga ia querer sair comigo...

Cheguei no albergue e tinha vaga!! Graças ao bom pai!! Ranguei (9 euros numa baguete tosca e um suco) e fui dar uma volta. Passeei pelo cais do terminal de passageiros, muito bonito, e fui ao museu do teatro. Simplesinho mas bacana! Muita coisa sobre Ibsen mas a maioria das informações em norueguês.

À tarde fui ao museu do Edvard Munch, o mais famoso pintor norueguês.Vão fechar o parque, depois escrevo mais...


Terça-feira, 22 de agosto de 2006



Num to a fim de escrever! To com uma preguiça...estou em Bergen na Noruega, cidade muito bonita!

Ontem peguei um trem de 7 horas de Oslo até aqui. O trem passa por paisagens fantásticas.

Bergen é linda! É um porto cercado por montanhas. Hoje fui a uma delas. Aproveitei e dei um role pela floresta. Encontrei uns lugares maravilhosos, destaque para um lago com uma montanha belíssimos. O reflexo era mais nítido do que a montanha em si. Andei uns 5 km e ainda desci a pé (pra subir a montanha há um bondinho). Cheguei bem cansado, por volta das 16h. Comi um hambúrger de bacalhau no mercado de peixe (meia-boca) e fui para o albergue.


Agora são 19:30h e estou sentado em um mini parque (ta mais pra praça) aqui no centro da cidade.


Na volta da montanha pensei de novo na questão da justiça. Vi uma casinha linda com um carro bacana na garagem. Por que alguém nasce loiro, olhos azuis,em Bergen, com uma casa linda ao pé da montanha, cria seus filhos ao ar livre , com escola de primeiro nível, sem violência e outra pessoa na nasce na Somália? É uma questão de sorte? Mas como sorte? O fato de nascer no lugar define muita coisa no seu destino. Até imaginei um diálogo com a recepcionista do albergue:


- Mas sabe o que parece ?


- O que ?


- Como se antes de nascer, você fizesse uma prova. Dependendo da sua nota, você pode escolher o lugar. Até imagino a alma que tirou 3 pensando “Putz, só sobrou o Brasil ...”