terça-feira, 24 de novembro de 2009

Pra que, meu deus, pra que?

Acabei de assistir a Bastardos Inglorios. E confesso que estou abismado.Antes de continuar, preciso dizer que contarei coisas do filme portanto se você ainda não viu e pretende, é melhor não ler esse post.

Bom, vamos lá, continuando.

Ao sair do cinema, duas coisas ficaram martelando a minha cabeça sem parar.

A primeira: é possível, em qualquer tipo de comunicação, seja um mero dialogo seja uma obra de arte, separar o conteúdo da mensagem da forma com a qual ela é transmitida? Eu penso que não. Um quadro do Monet que retratasse miolos humanos esparramados em vez de lindas paisagens francesas geraria uma reação totalmente diferente no espectador. Dizer "você é a mulher mais encantadora do mundo" de uma forma rude e agressiva mudaria completamente o entendimento da receptora.

Não sou crítico de cinema, nem quero ser, então vou falar apenas da impressão que este filme me causou. Fazia muito tempo, mas muito mesmo, que eu não achava um filme tão ruim. Ruim não é a palavra, é claro que o filme sob aspectos técnicos é bom. Mas me refiro à forma que este diretor usou para contar sua história. E principalmente ao conteúdo. A sensação que tive ao sair do cinema foi a de ser ultrajado.

É lógico que os Nazistas cometeram atrocidades indesculpáveis. Eu estive na Polônia. Pude visitar Auschwitz e outros lugares. Vi as camaras de gás. Vi as pilhas de sapatos e as fotos dos que ali foram separados de suas familias, torturados e mortos como cães.

E justamente pela gravidade do fato - o que seres humanos foram capazes de fazer com outros seres humanos - que eu fiquei estupefato com a maneira com a qual este diretor lidou com este assunto.

A segunda coisa que martelou minha cabeça foi: pra que fazer um filme desse? Pra que?

É preciso falar deste assunto para que nunca mais aconteça algo semelhante? Claro que sim. Muito já se falou e talvez muito ainda se fale. Para ficarmos apenas na sétima arte filmes com A Lista de Schindler trataram deste assunto com a dignidade que ele merece.

Agora fazer disto uma brincadeira grosseira, hemorrágica, farsesca e infantil? É muita irresponsabilidade.

Ah, mas os Nazistas mereciam tudo o que foi mostrado no filme. De novo, a minha indignação não se dá por conta da relação Nazistas-Judeus (e outros tantos povos que foram perseguidos pelos Nazistas). Ela se dá pelo fato de que um acontecimento que joga na nossa cara quão monstruosos os seres humanos podem ser não pode servir de conteúdo para um filme com piadinhas que beiram o pastelão.

O mundo já anda violento demais. Não só a violência em si mas vejo que estamos cada vez mais perdendo a nossa sensibilidade e espírito reflexivo. Os programas de TV com suas notícias cada vez mais hemorragicas; as novelas que mostram o tiozinho indo de helicóptero com a noiva para a lua de mel em um RJ em farrapos; o nosso presidente que recebe com abraços o presidente do Irã (o mesmo cara que nega o Holocausto, que prega a morte a homossexuais e que governa um país sob ditadura), acho que tudo isso está estraçalhando qualquer sensibilidade que tenhamos. Bom, difícil saber o que é causa e o que é consequência.

Não quero parecer aqueles malas que estudam alguma Ciência Humana e acabam virando Azedos da Silva onde um simples Big Mac gera discussões eternas e massacrantes. Mas a gente tem que prestar mais atenção, muito mais, no que anda ingerindo. Isso é muito sério. Estamos ingerindo junkie food da pior espécie. Daquela mais cancerígena. Mostrar a violência extrema de uma forma "engraçadinha" e "cinematográfica" apenas porque ela existe é como mostrar para o pai de uma filha estuprada o estupro em si com música e camera lenta e querer que ele se divirta. Pelo amor de Deus.

Repito: o Holocausto talvez tenha sido a coisa mais monstruosa da História recente da Humanidade. Tratar deste assunto da maneira como o Tarantino tratou me fez sentir envergonhado.

Enfim, é só a minha opinião.

2 comentários:

Masamune disse...

Depois que eu assistir volto pra comentar....

Teste de disciplina comentar sem ler o post....

Diogo disse...

Cara,

Eu acho que existe uma forma "forfun" de assistir este filme. Quando vi, a sensação que me deu foi meio de catarse. É bom ver quem fez tanta gente sofrer sofrendo.

Não vou discutir se os nazistas merecem, não merecem, etc e tal.

O que o filme mostra é alguém querendo causar dor, medo, sofrimento aos nazistas. Tirando a primeira cena, não mostra o holocausto em si, com o que é pior dele (na minha opinião) - os campos de concentração.

Não mostra talvez porque parta do princípio que as pessoas já conhecem e já cansaram desta história.

E aí que mora o perigo, para mim. Porque parar de discutir o assunto propriamente dito, e discutir ficções é tirá-lo do campo da realidade e levar para a fantasia. No longo prazo, as consequências são infernais.

É o Ahmadinejad elevado a N! Imagina formar na população a percepção de que o holocausto foi o que o Tarantino mostra.

Agora, este é um fato isolado que chamou a atenção. Você consegue imaginar quantos passam pela gente, quantas merda compramos achando que é bom por não examinar com um pouco mais de cuidado?

Sempre te falo - a gente tem obrigação de julgar. É disso que estou falando. Se você não julga, comenta e reclama, a massa tapada compra o holocausto do Tarantino. Como comprou o Datena, o Zorra Total e tantas outras merdas.