sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Segunda-feira, 06 de novembro de 2006

Estou na ferroviária de Valência esperando um trem para Granada. O trem sai 0:51h e são 10:30h! Acabei de rangar minha paella fria (comprada às 14h), bem meia boca por sinal e ainda tenho 2:30h para esperar aqui.
Hoje passei o dia inteiro andando ou sentado esperando. Como perdi 70 euros ontem tive que gastar o menos possível. Aliás acabei de assistir a uma pecinha que descobri nas andanças. Achei que seria de graça mas como era em um bar fui obrigado a pagar 3 euros para comprar uma cerveja. Tudo bem, tudo pelo teatro. Que bosta de peça! Que bosta de peça! Valeu para ver o ator bem solto no palco mas a peça foi terrível!

Vou tentar me lembrar o que fiz desde que escrevi pela última vez. O jogo do Barça foi um lixo.Parado, sem garra, uma catimba incrível. Apesar de 4 gols, deu sono. No dia seguinte saí andando em direção à Sagrada Família. Parei em uma exposição de fotografia sobre o islamismo, depois em uma sobre o envelhecimento e finalmente cheguei à catedral. Por fora, é impressionante. Quanto detalhe. Uma linguagem completamente diferente de tudo o que vi. Depois de relutar alguns minutos por ter que pagar 8 euros para entrar, decidi ir. Que decepção!Acontece que os caras ainda estão construindo a igreja (segundo informações do próprio local, tudo está sendo custeado por fundos privados. O ser humano prioriza como nenhuma outra espécie...) então a parte interna está cheia de material de construção, andaime, pó, sem falar no fato de que só algumas partes existem. O altar, por exemplo, não existe. Pô, 8 euros ? Acho que os fundos privados são os dos nossos bolsos…bom, tem um museu bacaninha na parte de baixo que conta toda a história da igreja e um pouco da vida de Antoni Gaudi, o arquiteto que foi nomeado diretor do projeto mas morreu em um acidente uns 20 anos depois (se eu não me engano foi na década de 20 do século passado). Se eu fosse arquiteto talvez me emocionasse um pouco mais pois há um monte plantas, maquetes, perspectivas etc. Parece que eles estão seguindo à risca o projeto original para completar a catedral. A previsão é 2020 eu acho.

Depois da catedral peguei o metrô para Barceloneta pois queria ir ao museu da História da Catalunha. Cheguei lá 14h e o museu fechava às 14:30h naquele dia. Decidi ir no dia seguinte. Passei na frente do restaurante do Samuel, equatoriano gente finíssima onde almocei no dia anterior mas estava fechado. Depois descobri que os espanhóis têm seu dia de finados no dia 01/11. Paguei 7 euros por um sanduíche no Subway e fui até o Montjuic, parque público no alto da colina, perto do porto. Eu já devo ter andando uns 5 km hoje...depois de me maravilhar com a vista (há um bondinho que rivaliza com o pão de açúcar, se não for mais bonito...) bateu uma vontade forte de ir ao banheiro, número 2! Como estava razoavelmente perto do albergue resolvi espremer o esfíncter e voltar para o lá. Fiz o que precisava fazer e saí de novo.

No albergue vi um flyer do Museu de Arte Contemporânea de Barcelona e me empolguei. Resolvi ir. Ao chegar lá, fechado. Ainda não sabia que dia 01/11 era feriado. Mas valeu pois ao lado do museu há o Centro de Cultura Contemporânea de Barcelona. O prédio também estava fechado mas havia uma parede de vidro com um monte de citações escritas por moradores de Barcelona. Algumas muito profundas, outra apenas pretensiosas e até piadas (uma mulher bateu na porta da casa de um adivinho. Quando ele perguntou quem era, ela respondeu: vá a merda, adivinho de meia tigela). Fiquei um tempo lendo a parede. No caminho de volta passei pelo Bari Gótic, um bairro bem bonitinho a leste das Ramblas e bem turístico. Em uma esquina havia três músicos se apresentando e uma galera assistindo. Quando cheguei, eles estavam tocando Stand by me, muito bem por sinal, parei pra ver. Fiquei quase duas horas assistindo. Os caras mandavam muito bem. Cantei junto, me emocionei, sonhei, fiz planos, enfim foi uma delícia. Entre as músicas tocadas rolou Help, What´s going on, No woman no cry, I just call to say I love you, Billie Jean, Three little birds, Take another piece of my heart etc. Valeu muito a pena.

À noite fui a um bar assistir a Arsenal x CSKA pela Champions e pagar 4 euros por uma breja. Antes de ir, entretanto, estava comendo na cozinha do albergue pão com salame comprado em um supermercado quando encontrei o indiano/canadense que dormia na cama de cima do meu beliche. Me sentei ao lado dele na mesa e logo percebi que ele estava tendo uma conversa filosófica com uma canadense de 19 anos (bem gatinha por sinal. Eu já havia trocado uns olhares com ela no dia anterior, mas confesso que saber que ela tinha 19 anos me desanimou um pouco) e com um americano. Juro que tentei me segurar e me concentrar no meu salame mas depois de 30 segundos entrei na conversa. O americano, que tinha 20 anos mas era bem espertinho, estava tentando dizer que estava descobrindo que as pessoas são muito parecidas, não importa de onde elas venham. Como os outros dois estavam discordando dele eu entrei para defendê-lo. Entrei com o meu discurso acerca das circunstâncias determinarem 95% das suas crenças e das suas atitudes, o que eu realmente passei a acreditar depois dessa viagem. Como eu era o mais velho da mesa (o indiano tinha 25 anos) todo mundo me escutou.
Quando o americano começou com o papo de mudar o mundo, fazer algo que realmente valha a pena na vida (confesso que senti um orgulho e uma grande simpatia por ele. Apesar de ele ter afirmado que já fazia tudo o que podia no seu microcosmos e que se sentia preparado para mudar o macrocosmos chamado mundo, eu realmente senti uma alegria ao ver o brilho dos seus olhos) eu lhe disse uma coisa que depois fiquei um tempão pensando e finalmente entendi que tinha dito para mim mesmo na verdade. Eu disse que a melhor coisa que ele podia fazer para o mundo era ser feliz. Que a coisa que o mundo mais precisava era de gente feliz de verdade e que ele não tinha noção de quão difícil isso seria...todos balançaram a cabeça concordando..

No dia seguinte paguei 11 euros para ver o museu do Barca (tinha uma exposição de fotografias sobre futebol que fez cada euro valer a pena) e peguei o ônibus para Valencia.

Me lembro muito bem de ter gasto 3 euros ligando de Barcelona para o albergue de Valencia para reservar uma cama e de ter andado pelo menos 30 minutos da rodoviária de Valencia até o albergue sob uma baita chuva e uma temperatura de uns 15 graus (depois de 4 horas de viagem no ônibus) e ouvir do recepcionista que ele não reservou minha cama e que não havia lugar aquela noite. Detalhe: foi o mesmo cara com quem eu falei no telefone, pra quem eu dei meu nome completo, endereço em SP, número do passaporte. Fiquei tão orgulhoso de mim mesmo por não ter subido no balcão e chutado a cara do filho da puta! Ele pelo menos teve a consideração de ligar para um outro albergue. Ás 22:30h finalmente cheguei no albergue que ficaria em Valencia.

Entrei no quarto de 16 camas onde dormiria as próximas três noites e já fiz amizade com o cara que estava na cama de cima do beliche, um americano da Geórgia chamado Andréas. Gente boa, cabeludão, cara de roqueiro. Batata: o cara tinha se formado em Sociologia nos EUA mas tocava guitarra em 3 bandas. Umas meninas do quarto nos chamaram para dar uma volta e resolvi que precisava de uma cerveja. Entre elas uma alemã gatíssima, Sarah. Fomos a um bar que tinha uma pista (e estava bem cheio por sinal) e ficamos conversando um tempão os 3, a Sarah, o Andréas e eu. Não sei se estou ficando velho ou veado, mas perdi completamente a vontade de investir na Sarah depois que percebi a cabecinha de palmito que ela tinha. Tadinha, ela também só tinha 19 anos..por que as mulheres de 19 anos me perseguem ?! Depois de 3 cervezas voltamos para o hostel, o Andréas e eu. Depois continuo a falar de Valencia pois minha mão está doendo de tanto escrever...

4 comentários:

Anônimo disse...

Pois é caito,quando se tem 19 anos isso é bom,mas com 40 e tantos fode né...


rsrsrs

Homem Oco disse...

ixe brother, manda teu curriculo pra praça é nossa....os caras vão se amarrar em ti....

cabeça de fubá!!

Anônimo disse...

AVOAR! É tudo que eu mais desejo na minha vida de agora, meu lindo. Nunca tinha lido suas histórias em terras espanholas. Acredita que pelo amor a arte de ser atriz, fui estudar espanhol ano passado e hoje em dia eu falo fluentemente? O cinema latinoa-mericano e espanhol são fortíssimos! Estive em Buenos Aires no final deste ano. Estoy encantada. Quero viver lá, nem que seja por 2 meses. Quero viver lá, aqui, ali... como vc. fez há anos atrás. Ninguém sabe o quanto é bom até se jogar de verdade, não é? Vivi isso neste final e começo de ano. Como quero mais. Saudades enormes de vc.
bj. no coração.

Homem Oco disse...

oi meu anjo!! é bem por aí!! as pessoas que vc conhece, as situações que vc vive, mudam completamente a forma como vemos um mundo...

se todo mundo se arriscasse um pouco mais e viajasse sozinho (ficar em hotel bacana não vale), acho que o mundo seria mais humano...

boa sorte na sua jornada!!

bjos e bjos