sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

pais e filhos...

choose life.choose a job. choose a career. choose a family. choose a fucking big television, choose washing
machines, cars, compact disk players and electrical tin openers (...) choose DIY and wondering who the fuck u are on sunday morning. choose sitting on the couch watching mind
numbing , spirit-crushing game shows, stuffing junk food into your mouth. choose rotting away at the end of it
all, pishing your last in a miserable home nothing more than an embarassement to the selfish,fucked-up brats
you spawned to replace yourself. choose your futur. choose life.


Trainspotting, Irvine Welsh

o fato deste trecho do livro Trainspotting (ou melhor, sua versão para o cinema) ter sido o "escolhido" como a sua síntese me faz refletir. Sem dúvida é um trecho de impacto mas, pra mim, mais do que um ensaio da contracultura, o livro tem como tema a relação pais e filhos ( o capítulo em que Frank encontra seu pai - se não me engano chama-se trainspotting at leighton station - é o resumo do livro).
Caraca, como é importante o comportamento dos pais na formação da personalidade dos filhos. É óbvio que todos temos características inatas mas não é necessário ser nenhum especialista em comportamento humano pra perceber que boa parte do que somos advém dos nossos pais.
Por que resolvi escrever sobre isso agora? Nos ultimos dois anos tomei algumas atitudes na vida cujos efeitos começam a vir à tona. Deixei uma potencial carreira em grandes empresas pra tentar germinar uma vida profissional com mais significado (traduzindo em miúdos, troquei um belo salário por um sonho...). Então, estou naquela fase onde o barquinho perdeu de vista a margem que partiu mas não tem nem sinal da margem de destino...não que eu não soubesse que essa fase aconteceria mas, como diz samuel rosa "o caminho só existe quando você passa"...
Isto posto, o ponto é que ando confrontando a minha escolha diariamente na minha cabeça...se antes tinha absoluta certeza do que queria, agora tenho frio na espinha quando penso que as coisas podem sair de forma diferente de como pensava...e de tanto pensar sobre o assunto, descobri a principal fonte de angústia: o modelo sob o qual fui criado e para o qual, pelo menos no meu inconsciente, eu deveria responder. Sempre que penso que este caminho que estou escolhendo pode dar "errado", me vem o "certo" como o caminho que os meus pais seguiram...e não só eles, mas quase todo o ciclo social (leia-se: classe social) dentro do qual fui criado.Escolher entre manter o padrão ou seguir um rumo que pode, muito provavelmente, levar-me a outros padrões tem sido o motivo de quase todas as minhas sinapses ultimamente.
Não estou culpando meus pais por nada.Eles têm as razões deles para viverem e terem vivido da maneira que escolheram e até acho que faz parte do processo de amadurecimento esse enfrentamento, mas que é doloroso, ah é...
Uma vez, conversando com uma amiga em um café, ela me disse "gostaria de ter sido criada com a mensagem "seja o que te fizer feliz" ao invés de "seja uma médica, pois médicos têm casas maiores"... acho que é um pouco por aí...bom, minha cabeça já tá soltando fumacinha...mas recomendo fortemente a leitura do livro, é muuuuito melhor do que o filme!

3 comentários:

Diogo disse...

Cara,

É engraçado esse lance de qual a mensagem que os pais passam para os filhos.

Fico imaginando o que passa pela cabeça deles "se eu passar a mensagem seja o que te faz feliz, meu filho é capaz de ser um desajustado... melhor incentivar a ser médico com uma casona, que isso nunca matou ninguém."

Mas o mais foda acho que é o desajuste temporal - quando você fica adulto (não com vinte anos, na boa, sou um pouco conservador com isso - acho que só lá pelos 27, 28 você realmente começa a ter idéia do que está fazendo) o modelo anterior já está ultrapassado.

Mas vou te dar um conselho, se é que o que eu digo vale alguma coisa - é fácil você estar feliz e contente com suas escolhas quando elas poem o pão na mesa, foda é quando a mesa está vazia. Mas escolher é isso- são pacotes, com coisas boas e ruins ao mesmo tempo. Mas aguenta aí, porque o desespero passa, e quando passa você volta a ver o valor nas suas escolhas.

Pronto, um comentário cretino e um comentário cabeça hoje. Posso ir dormir.

caio disse...

caraca..mandou benzaço! o que aconteceu com vc??? fala a verdade vai, foi a val que escreveu isso enquanto vc tava construindo barricadas para as formigas no chão da sua cozinha...

Masamune disse...

Quase meu tema preferido - fora as conhecidas teorias malucas a respeito de qualquer coisa.

Interessante quando começamos a identificar esses padrões herdados, que não são os nossos necessariamente ( mas podem ser). Aí começam a surgir os problemas:

1- Será que eu não sou assim? Será que não seria mais feliz sendo médico/advogado/executivo?

2-E o reconhecimento dos amigos, família? Será que eu encaro ser visto como um "alternativo"??? E lá na frente? Vou me arrepender?

3-E para onde o mundo está indo? Se o modelo está ultrapassado, qual é o novo? Ainda mais com as mudanças constantes???

4-E a pior parte. Depois de apanhar pra SABER O QUE QUERO, como diabos conseguir se ninguém me ensinou????

Então algumas coisas ficam mais claras. Modelos como "ser médico" com certeza carregam alto risco de erro, pois depois de 20 anos tudo pode ter mudado.

Acho que dar experiências variadas é um bom caminho, assim você pode "armar" suas filhas para situaçoes diversas que elas vão enfrentar.