quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

O petroleiro

Os petroleiros são, em média, os maiores navios do mundo. Não é dificil um petroleiro ultrapassar 400 metros de comprimento..ou seja, o bicho tem quase meio quilometro...o calado do navio (a parte que fica submersa) pode chegar a 24 metros (no caso do Happy Giant, um dos maiores navios já construídos), o tamanho aproximado de um prédio de 08 andares. Para fazer uma curva, um petroleiro ocupa um raio de 04 quilometros...para parar totalmente, o navio pode precisar de 10 km. Ou seja, quando o capitão quiser virar seu barco, tem que iniciar a manobra sabendo possuir uma área livre de 04 km. Caso queira frear o navio, é preciso começar com 10 km de antecedência.

Portanto, é imprescindível que o comandante do navio tenha ciencia do tempo necessário para que certas atitudes alcancem resultados.

Esta semana fomos agraciados com a notícia de que o Brasil ultrapassou o Reino Unido e tornou-se o sexto maior PIB do planeta. Essa medida, sozinha, não permite análises muito profundas. É preciso sobrepor esse índice com outros (como PIB per capita, por exemplo) para podermos realmente ter uma fotografia mais clara. Mas, de qualquer forma, é uma notícia boa.

Porém, anda me irritando um pouco a apropriação indébita que certos governantes tem feito de alguns resultados, incluindo este. Como dito no primeiro parágrafo, é muito difícil que a manobra do comandante de um navio do tamanho do nosso surta efeito no curto prazo.  A curva precisou ser iniciada há alguns anos.

Hoje, li um artigo escrito pelo economista Rolf Kuntz no Estadao.com.br (copio o link do artigo abaixo)

http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,um-pais-quase-serio--,815971,0.htm

Neste artigo, ele lista as 03 principais razões para estarmos alcançando este tipo de resultado. Não tenho o conhecimento academico e empírico do articulista, porém tenho a mesma opinião que ele, razão pela qual quis fazer este post.

De forma resumida, seguem as razões listadas pelo Kuntz:

1) A solidez do nosso sistema financeiro. Quem nao se lembra, o país passou por um processo de quebras de bancos muito difícil nos anos 90 e diversas medidas ( a grande maioria, impopulares) foram tomadas para evitar novos problemas no futuro. Essas medidas ajudaram o país a passar com menos dor pela crise que começou em 2008 e se arrasta até agora.

2) A razoável condição das contas públicas. Temos déficit e, nos ultimos anos, temos tratado este assunto com bastante, digamos, irresponsabilidade. Porém, algumas medidas tomadas no passado (e, com mérito, mantidas no presente) como a Lei de Responsabilidade Fiscal e metas de superávit fizeram com que o monstro ficasse menos feio.

3) As políticas macro economicas adotadas no passado (e mantidas no presente) de metas de inflação, cambio flutuante e acumulação de reservas (súperávit) deram margem de manobra para o Banco Central (trabalhando na oferta de crédito e injeção de recursos na Economia).

Além disso, a nossa industria vem se modernizando desde o impacto sofrido pelo governo Collor. A nossa produção agrícola também vem sofrendo choques de gestão há várias décadas.

Sendo repetitivo, a curva começou a ser feita vários anos atrás.

Em compensação, nos tempos atuais, nosso país diploma algo como 30 mil engenheiros por ano. A China forma 400 mil e a India, 200 mil. Apenas 27% dos adolescentes formados no Ensino Fundamental em 2009 adquiriram conhecimentos suficientes de Português e 15%, de Matemática. Cerca de 20% das pessoas com mais de 15 anos são analfabetos funcionais.* De acordo com Kuntz, "o padrão 'Os menino pega os peixe' pode ser aceitável para o Ministério da Educação mas não parece ser para as autoridades educacionais da China, India e Indonésia".

Além disso, a carga tributária do país continua uma das maiores e mais burocráticas do mundo. O custo de se produzir no Brasil já ultrapassa o de vários países europeus. As despesas do Estado (que, no longo prazo, jogarão no lixo aqueles tres itens apontados como responsaveis pela passagem suave do Brasil pela crise) crescem irresponsavelmente nos ultimos anos. Esferas técnicas do Governo como Agencias Reguladoras e empresas estatais tem sido preenchidas por critérios partidários.

Nos próximos 20 anos, não estaremos apenas concorrendo com a Europa  mas sim com a China, India, Coreia, Indonésia, Russia, Africa do Sul, México, Colombia etc etc etc.

Que decisões os comandantes destes navios estão tomando? Que curva iniciaram? E nós, que curva estamos fazendo ?
´
Um comandante que toma, durante uma calmaria, as mesmas decisões que o comandante anterior tomou durante uma tormenta é, para dizer o mínimo, despreparado. 

E quem vai pagar o pato é a tripulação.


* Esses dados foram trazidos no próprio artigo do Kuntz, com as suas devidas fontes.

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

A Chave

Almoço em um restaurantezinho na praça Vilaboim com um amigo que tem, digamos, alguns cabelos brancos a mais do que eu.

Amigo: -E aí, como vão as coisas na empresa?

Eu: - Estão indo bem.

Amigo: - Que bom...os clientes estão pagando?

Eu: - Alguns sim, alguns não..

Amigo: - É assim mesmo..tem uma distancia entre vender e receber né..

Eu: - Ô...

Amigo: - E vc tá conseguindo administrar seu tempo melhor?

Eu: - Mais ou menos, tenho trabalhado mais do que eu gostaria..

A: - E a empresa está faturando mais com isso?

E: Não necessariamente.

A: Então tem algo errado..analise melhor onde vc está investindo seu tempo..

E: Ah não, eu faço bastante esse exercício..

A; Tem certeza...onde está o dinheiro do seu negócio?

E: Como assim?

A: Isso que vocês fazem....como é que se ganha dinheiro? É na venda, na operacionalização, na intermediação, na assessoria..onde tá a grana?

E: Ah, acho que um pouco em cada..

A: Você acha?

E:  É....acho...

A: Amigo, vc permite que eu diga uma coisa ?

E: Claro...

A: Eu demorei 30 anos para virar a chave...

E: Como assim...

A: Trabalhei por um bom tempo em uma boa empresa...havia um superior..esse superior tinha um superior...que por sua vez também tinha um superior....a mim, cabia executar o que fosse determinado..até pensava um pouco, propunha algumas coisas...mas na maioria das vezes, os caras lá em cima é que ditavam as normas...a minha agenda era 75% definida por eles...e se eles fizessem merda, eu corria um sério risco de perder o emprego..

E: Entendo...

A: E a minha maior preocupação era nao perder o emprego...então eu dava uns pitaquinhos de vez quando mas, no fundo, nao queria me indispor muito..e rezava pros caras lá em cima não fazerem muita merda..

E: Hehe..

A: E aí um dia eu resolvi seguir rumo próprio..

E: Parabéns pela coragem...

A: Parabéns nada..eu fui desligado..e nao consegui outro emprego...não tive opção..mas o ponto não é esse...quando você é empregado, no seu inconsciente, a pergunta que você responde todos os dias é "como eu sobrevivo aqui?".."como garanto meu salário do final do mês"...

E: Entendi..

A: Quando você é dono, a pergunta tem que ser "Quanto dinheiro isso que estou fazendo vai gerar?"

E: Faz sentido..

A: Não, você não entendeu, acredite em mim que você não entendeu...um dia você vai entender..espero que mais rápido do que eu...espero sinceramente...sabe qual é a diferença entre o empregado e o empreendedor que pensa como empregado? Nenhuma...melhor ainda, o empreendedor que pensa como empregado fatalmente será mais pobre do que o empregado...

E (pensativo)

A: Trabalhar para alguém e para si mesmo é como jogar volei e basquete...se você entrar na quadra de basquete e tentar dar uma manchete na bola, não vai dar certo né...

E: E como eu faço para virar a minha chave?

A: Todo o dia se pergunte "Quanto dinheiro o que eu fiz hoje vai gerar?"..e um dia você vai entender o real significado dessa frase...

E (pensativo)

A: Você quer mais café?

E: Ah sim por favor...

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

os barquinhos

Conta a história que um indiano, professor de meditação, foi mandado aos Estados Unidos para ensinar Yoga aos americanos.O ano era 1914. A cidade escolhida como primeira parada: Boston. A viagem foi feita de navio (por razões óbvias) e o cara tinha algo em torno de vinte e poucos anos.

Conta a história que ele demorou 04 anos, ao chegar em solo americano, para começar a entender exatamente o que precisaria ser feito. Conta a história que o professor dele exigiu que ele, antes de embarcar, se formasse em um curso de terceiro grau pois "nos Estados Unidos só te respeitarão se você tiver um diploma." O ano era 1914.

A organização que ele fundou é hoje uma das maiores escolas de meditação do planeta, com milhões de associados. Se o mundo é áspero e pouca gente está interessada (seriamente) em meditação hoje em dia, que dirá 90 anos atrás.

Enfim, o cara foi. E atingiu seu objetivo. Poderia ter falhado? Certamente. Teve medo, frio na barriga e dúvidas? Muito possivelmente. Mas foi.

O que fez ele conseguir o que queria? Longe de ter a pretensão da resposta mas posso dar uns pitacos:

1) Ele se preparou. Antes de viajar, encarou anos de treinamento em meditação, uma faculdade (lembre-se, estamos em 1914...), levantou fundos (a história também conta essa parte) e ouviu os conselhos dos mais sábios.

2) Ele foi.

E pra mim, esse segundo  item é o mais importante.

Mesmo com todo o planejamento do mundo (e ele é fundamental, caso contrário um projeto transforma-se em uma aventura irresponsável), há um momento em que seu barquinho se afasta da margem e não há nem sinal da outra margem. Você sabe para onde vai, calculou o combustível necessário, sabe quanto tempo vai levar, se vai chover nas próximas semanas, seu rádio está funcionado mas, ainda assim, tudo ao seu redor é alto mar. E vai seguir assim por um bom tempo.

E é a capacidade de se manter firme neste momento que separa os que chegam dos que não chegam.

Eu acho.