domingo, 3 de julho de 2011

Entre Lacan e Yogananda

Jacques-Marie Emile Lacan nasce em Paris em 13 de abril de 1901. Médico neurologista, interessa-se pela Psiquiatria e, mais tarde, pela Psicanálise.  Em 1953, funda a Sociedade Francesa de Psicanálise. Em 1964, Lacan funda a Escola Freudiana de Paris. Entre seus diversos trabalhos publicados, encontram-se A Ética na Psicanálise (editado no Brasil em 1991) e Os Quatro Conceitos Fundamentais da Psicanálise (editado no Brasil em 1979). Morre em 09 de setembro de 1981.

Paramahansa Yogananda (nome monástico de Mukunda Lal Ghosh) nasce em 05 de janeiro de 1893 em Uttar Pradesh, India. Após formar-se na Universidade de Calcutá em 1915, faz votos monásticos e dedica-se exclusivamente aos estudos espirituais. Em 1920, parte para Boston, com a finalidade de levar o conhecimento religioso da India para o Ocidente. Em Los Angeles, funda uma escola de meditação presente até hoje em diversos países. Morre em 07 de março de 1952.

Não há indício que os dois tenham se conhecido.


"Daphne disse que via o pai de Karl como o tipo de homem "castrador". Parecia querer que o filho se sentisse um zero à esquerda.

 - Às vezes - continuou ela - o Karl diz que ajo como o pai dele e o dilacero em pedaços. E ele tem razão, me sinto realmente mal com isso.

Isso era algo em que já havíamos trabalhado num momento anterior da terapia, e é uma área em que considero úteis as formulações lacanianas. A "castração" é um termo lacaniano importantíssimo - diferente mas também relacionado ao uso que lhe deu Daphne. Quando Lacan se referia à importância de homens e mulheres aceitarem sua "castração", estava se referindo ao fato de que, em termos psicológicos ou sexuais, nenhum de nós é inteiro. Excetuando o caso dos psicóticos, que realmente acreditam ser Deus, todos somos seres radicalmente incompletos - clivados por nossos próprios processos inconscientes, que muitas vezes parecem prevalecer. Somos seres falantes, dotados de linguagem mas também condenados por ela, já que nunca podemos dizer exatamente o que pretendemos. Só aqueles que aceitam esta realidade - a de que, neste sentido, somos todos "castrados" - têm a capacidade de amar. Os homens e mulheres que presumem ter uma espécie de completude fálica não tem a menor chance de intimidade. O que incomodava Daphne era que o pai de Karl - e ela própria - era capaz de agir como se Karl fosse o único ser castrado, enquanto eles próprios eram inteiros. Eles "o despedaçavam" para provar sua superioridade."

Trecho de Os Porcos-Espinhos de Schopenhauer, escrito em 2002 pela psiquiatra e psicanalista americana Deborah Anna Luepnitz.


"Encontrava-me no templo, em silencio, diante da imagem de Kali.Voltei-me e deparei-me com um homem alto, cuja roupa, ou falta dela, demonstrava tratar-se de um sadhu errante.

(...)

 - A confusão entre aspectos benignos e malignos da natureza, simbolizados por Kali, já intrigou cabeças mais sábias do que a minha.São poucos os que conseguem desvendar este mistério. O bem e o mal constituem o enigma desafiador que, como uma esfinge, a vida coloca perante cada inteligência para ser decifrado.Por não procurar encontrar resposta, a maioria dos homens paga esta negligência com a própria vida, uma condenação tão válida hoje como nos tempos de Tebas. Aqui e ali, uma figura altaneira e solitária ergue-se e não desiste da luta, extraindo da dualidade de maya a verdade da unidade indivisível.

 - O senhor fala com convicção - eu disse, aprecidando a discussão.

 - Há muito venho fazendo uma introspecção sincera, que é uma maneira extremamente dolorosa de alcançar a sabedoria. Examinar-se a si mesmo, olhar incansavelmente os próprios pensamentos, é uma experiência marcante e devastadora que esmaga o ego mais obstinado.

(...)

 - Venerável senhor, não tem compaixão pelas massas desorientadas?

O sábio ficou em silêncio durante alguns instantes. Depois deu uma resposta evasiva:

- Amar tanto o Deus invísivel, repositório de todas as virtudes, quanto o homem visível, que aparentemente não possui virtude alguma, é, muitas vezes, frustrante! No entando, nossa criatividade está à altura deste intrincado labirinto.A busca interior mostra prontamente a unidade de todas as mentes humanas: a forte afinidade da motivação egoísta que, pelo menos neste sentido, deixa transparecer a fraternidade do homem.Como resultado dessa niveladora descoberta, surge uma desoladora humildade, que amadurece sob forma de compaixão por seus semelhantes, cegos ao potencial curativo da alma que está à espera de ser explorado.

 - Os santos de todas as épocas tiveram, como o senhor, compaixão pelos sofrimentos do mundo.

 - Só o homem superficial não reage às aflições alheias, pois está afundado em seu próprio e mesquinho sofrimento. Ele continuou: - Aquele que pratica um exame minucioso de si mesmo experimentará uma expansão da compaixão universal, libertando-se das exigências ensurdecedoras do ego. (...)"
 
Trecho de Autobiografia de Um Iogue, escrito por Paramahansa Yogananda em 1946.

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