domingo, 21 de março de 2010

Um brinde às rugas

Eu já passei o Cabo da Boa Esperança dos 30 anos. Ainda me considero muito jovem mas a percepção que tenho da vida hoje é completamente diferente da época que tinha 20 e poucos anos.

Acho que estou passando por uma fase onde diversas ilusões estão ruindo. O modo de enxergar a vida tem sofrido alterações profundas. Muitas vezes bem doloridas.

Sonhos e fantasias têm sido substituídos por projetos e tentativas de me acalmar.Tenho percebido que a paciência talvez seja a virtude mais importante na vida.

Acho que ainda vai levar um tempinho para eu me adaptar à nova realidade. Mas se por um lado tenho sofrido um pouco, por outro tem sido libertador.

Uma das maiores compreensões que tenho tido é a de que eu estou longe de ser a pessoa que eu achava que eu era. Bem longe. Não falo isso com nenhuma autopiedade ou sentimentalismo, é uma mera constatação mesmo. E isso está me aproximando das outras pessoas. Tenho sentido um senso de fraternidade maior, uma sensação de que a luta é difícil e bonita para todo mundo.

Não sei se é por causa das dificuldades deste processo de crescimento, mas tenho admirado cada vez mais as pessoas idosas. Quanto mais rugas na cara, quanto mais fios de cabelos brancos na cabeça, mais beleza enxergo em seus olhares. É como se cada ruguinha representasse uma dificuldade ultrapassada, uma fantasia arruinada, um sonho perseguido.

Outro dia vi na tv um seriado com a Irene Ravache. Ele estava com os cabelos todos brancos, cortados estilo channel. Eu me apaixonei por aquela figura. Não sei o que me chamou a atenção, só vi uma beleza naqueles cabelos.Brancos. Estilo channel.

A integridade é sedutora. Envelhecer de forma íntegra talvez seja o movimento mais belo do ser humano.

É uma pena que vivamos em uma sociedade onde beleza e juventude são quase sinônimos.

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