domingo, 19 de julho de 2009

Olhar para si

"Aquele que estiver sem pecado, que atire a primeira pedra"
Jesus Cristo

Uma das coisas mais incriveis que tenho sentido nos ultimos meses é a sensação de estar aprendendo constantemente. Comportamentos e convicções que tenho tem sido largamente desafiados e até devastados pelas circunstâncias da vida.

A quantidade de julgamentos que fiz ou palavras que proferi (principalmente em relação aos outros) e, pouco tempo depois, se mostraram bastante erradas ou injustas, é muito grande. E isto tem tido um efeito esmagador no meu ego ultrainflado.

Eu acredito que tenha sido sempre assim mas só agora eu estou tendo olhos para ver. Por que? Na minha opinião, porque comecei a olhar pra dentro.

Já comentei isso aqui no blog uma vez, eu participo de um grupo de estudos espirituais. Nós estudamos diversas doutrinas e religiões com o intuito de entendermos, um pouco melhor, quem somos nós.

Dentre as que mais têm feito mais sentido pra mim, há um aspecto em comum: o que está dentro, está fora.

A reforma íntima, como dizem os espíritas, o treinamento da mente, como dizem os budistas, o espelhamento, como diz a Seich-no-ie etc. Um livro com citações de Gandhi diz " A Única revolução possível é dentro de nós". Eu acredito cada vez mais nisto.

Quando olhamos para dentro de nós, percebemos a quantidade de coisas
mal resolvidas, conflitos, possibilidade de errar que carregamos.
Além da óbvia noção de que um problema só pode ser resolvido após um claro entendimento de seu enunciado, isto permite que, ao pensar no outro, saibamos que a situação é parecida. O que faz com que a capacidade de entender comece a brotar. E a partir daí, a capacidade de respeitar. E a partir daí, a capacidade de se compadecer. E partir daí, a capacidade de perdoar. E partir daí, a capacidade de amar.

Tudo, no meu prisma, parte da auto observação.

Uma coisa é a compreensão, outra é a prática. Ainda estou anos-luz de viver de acordo com estas palavras. Mas, de degrauzinho em degrauzinho, vou seguindo na minha caminhada.

sexta-feira, 3 de julho de 2009

"- Deus é simples. Tudo o mais é complexo. Não procure valores absolutos no mundo relativo da natureza.

Estes preceitos filosóficos chegaram suavemente aos meus ouvidos. Encontrava-me no templo, em silencio, diante da imagem de Kali.Voltei-me e deparei-me com um homem alto, cuja roupa, ou falta dela, demonstrava tratar-se de um sadhu errante.

- O senhor realmente captou a desorientação dos meus pensamentos! - sorri agradecido.

- A confusão entre aspectos benignos e terríveis da natureza, simbolizados por Kali, já intrigou cabeças mais sábias do que a minha.São poucos os que conseguem desvendar este mistério. O bem e o mal constituem o enigma desafiador que, como uma esfinge, a vida coloca perante cada inteligência para ser decifrado.Por não procurar encontrar resposta, a maioria dos homens paga esta negligência com a própria vida, uma condenação tão válida hoje como nos tempos de Tebas. Aqui e ali, uma figura altaneira e solitária ergue-se e não desiste da luta, extraindo da dualidade de maya a verdade da unidade indivisível.

- O senhor fala com convicção.

- Há muito venho fazendo uma introspecção sincera, que é uma maneira extremamente dolorosa de alcançar a sabedoria. Examinar-se a si mesmo, olhar incansavelmente os próprios pensamentos, é uma experiência marcante e devastadora que esmaga o ego mais obstinado.Mas a verdadeira auto-análise opera com precisão matemática para produzir profetas. O caminho do "expressar-se a si mesmo", do reconhecimento individual produz egoístas, convencidos de terem o direito de interpretar Deus e o Universo à sua maneira.

- Sem dúvida a verdade retira-se humildemente perante essa arrogante originalidade - eu disse, apreciando a discussão.

- O homem não consegue entender a verdade eterna antes de libertar-se de suas pretensões. A mente humana, deteriorada pela degradação dos séculos, agita-se com incontáveis desilusões mundanas, numa vida repulsiva. (...)

- Venerável senhor, não tem compaixão pelas massas desorientadas?

O sábio ficou em silêncio durante alguns instantes. Depois deu uma resposta evasiva:

- Amar tanto o Deus invísivel, repositório de todas as virtudes, quanto o homem visível, que aparentemente não possui virtude alguma, é, muitas vezes, frustrante! No entando, nossa criatividade está à altura deste intrincado labirinto.A busca interior mostra prontamente a unidade de todas as mentes humanas: a forte afinidade da motivação egoísta que, pelo menos neste sentido, deixa transparecer a fraternidade do homem.Como resultado dessa niveladora descoberta, surge uma desoladora humildade, que amadurece sob forma de compaixão por seus semelhantes, cegos ao potencial curativo da alma que está à espera de ser explorado.

- Os santos de todas as épocas tiveram, como o senhor, compaixão pelos sofrimentos do mundo.

- Só o homem superficial não reage às aflições alheias, pois está afundado em seu próprio e mesquinho sofrimento. Ele continuou: - Aquele que pratica um exame minucioso de si mesmo experimentará uma expansão da compaixão universal, libertando-se das exigências ensurdecedoras do ego.É nesse tipo de solo que o amor de Deus floresce. A criatura finalmente volta-se para o Criador, mesmo que seja apenas para perguntar angustiada: "Por que, Senhor, por que?". Por meio das terríveis chicotadas da dor, o homem é conduzido, enfim, à Presença Infinita, cuja beleza deveria ser a única a atraí-lo."

Autobiografia de um Iogue, Paramahansa Yogananda