segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Os Sonhos

E eis que fui demitido.

Apesar do óbvio golpe na minha autoestima, confesso que ando bem tranquilo (por um lado até feliz pois era um dos únicos entre os meus amigos que ainda não havia ouvido a frase "nós não precisamos mais de você...brincadeira, poderia ter passado a vida sem ter ouvido isso...).

Enfim, cá estou, segunda, 16:56, atualizando o CV em uma lan house lotada de adolescentes navegando no orkut.

Mas o que quero escrever não é sobre a minha demissão. É sobre os sonhos.

Hã? É, sobre os sonhos.

Já vinha martelando este post há séculos e uma conversa com meus irmãos via e-mail hoje aliada ao fato de que nao tenho p... nenhuma pra fazer (bom, preciso achar um trampo...) me deram motivação.

Durante boa parte da minha carreira profissional (sou administrador formado, já trabalhei em empresa pequena, empresa grande, órgão político, larguei tudo e fui mochilar no velho continente, abri um restaurante, me formei em um curso profissionalizante de ator, dei aula de ingles..ave, parece a biografia daqueles caras que passam 40 anos se ferrando até virarem grandes personalidades, tipo o Churchill...eita, será que sou o próximo primeiro ministro da Inglaterra??) venho querendo responder uma pergunta: que porra eu quero fazer de verdade? O que me faz ter tesão pela Vida?

Uma mescla de inteligência (sem falsa modestia, me acho um cara inteligente) com uma possível presunção me fazem achar que só serei realizado se tiver uma atividade profissional com significado pra mim; da qual eu me orgulhe e, se der, ainda possa ajudar outras pessoas.
Eu, até hoje, nao consegui encontrar em coisas como sobreviver, criar os filhos, poder pagar uma viagem no final do ano, trocar de carro argumentos suficientes para me manter em um trampo chato. Será que é imaturidade minha?

Tenho sido movido a pequenos sonhos pela vida. Conseguir trabalhar em multinacional.A viagem de mochila pela Europa. Abrir o restaurante. Me formar ator. Um a um, eles têm sido conquistados e sempre me deparo com a pergunta novamente, e pior, mais intensa: " E agora?".

Tenho certeza de que essa demissão se deu por uma completa inadequação minha ao meio em que estava. Como disse minha irmã, "quando estamos na cadeira errada, a cadeira cospe a gente".

Também já conheci muita gente que correu atrás do grande sonho da vocação profissional e passou por grandes apuros durante a jornada. Muitos, muitos mesmo nao alcançaram o que almejavam. Alguns que alcançaram manifestaram que não era exatamente aquilo que eles tinham vislumbrado.

Tem um filme que eu adoro: chama-se Colateral. O Tom Cruise é um assassino profissional que obriga um taxista (Jamie Fox) a acompanhá-lo em seu trabalho na noite de Los Angeles. Há um determinado diálogo entre os dois. O Jamie Fox mostra a foto de uma ilha paradisíaca. Diz que está trabalhando como taxista para juntar grana para ir pra lá (ou para abrir uma empresa que levaria pessoas pra lá, nao lembro agora). O Tom Cruise pergunta "há quanto tempo". Ele responde "há quinze anos". E o Tom Cruise arremata "você nunca irá para a sua ilha".

Eu sempre achei que o que o Tom Cruise quis dizer era "pare de se enganar. corra atrás do seu sonho agora. você quer ir pra ilha, entao vá".

Agora começo a ter outra visão. De repente, o que nós precisamos é ter a foto da ilha no painel do carro. Isso nos faz segurar a onda. Passar pelos perrengues da vida. Eles virão, qualquer que seja o caminho escolhido. Se chegarmos à ilha, teremos que achar a foto de uma outra coisa.

Não quero concluir isso. É só uma possibilidade nova que tem se aberto para mim.

Enfim, este assunto dá vários posts. Mas por enquanto é isso.

Ah, vejam o filme. A trilha também é ótima.

7 comentários:

Cesar disse...

complexo...parece-me que há diferenças entre o tipo de 'sonho' que vc exemplificou da sua vida "viagem, restaurante, teatro" e a ilha paradisiaca do taxista. Os primeiros são tangíveis, conquistáveis e, principalmente, você estava fazendo alguma coisa efetiva para alcançá-los...o problema do sonho da ilha é que (pelo menos tem sido assim para mim) pode ser uma desculpa muito boa para não trabalhar outras questões que já melhorariam muito a sua vida, e podem ser trabalhadas agora...é difícil, mas desse argumento me parece que os pequenos objetivos funcionam melhor no sentido da motivação, de ajudar a passar perrengue etc...

Homem Oco disse...

é,talvez vc tenha matado a charada quando disse "vc estava fazendo algo na direção do sonho".
Transformar sonho em plano, com mini metas claras, seja o X da questão..

pra usar o emxplo da nossa conversa, lembro que o amyr klink deu grande enfase no livro dele ao periodo do planejamento, nao só da trip em si mas da vida pré trip...

sei lá, eu acho..gordolinooo!!!

Masamune disse...

O filme é do carajo....tenho o DVD.

Ele na verdade conta que está planejando uma empresa de aluguel de limusines, chamada Island Limos. E a proposta é transformar a experiência em suas Limusines igual ao que uma pessoa tem em uma ilha paradisíaca.

O tema é que ele vive planejando e não faz nada. Nunca está perfeito, e pra ele tem que ser perfeito, então acaba que fica dirigindo o seu táxi.

E o que ele percebe é que os sonhos devem ser vividos, que ele está deixando a vida passar sem sequer tentar.

Homem Oco disse...

ave, eu e vc gostamos do mesmo filme?? o que aconteceu??

bom, vc tem que admitir que esse nao tem prostitutas mortas vivas ou franceses bombados que pulam de prédio em prédio...

valeu pela explicação do Colateral!!

Enxaqueca disse...

Cara,

Um dia fui mandado embora de uma multinacional ouvindo "vc é um cara bom, mas está num momento ruim". Foi bem foda.

Aí eu insisti, e fui para uma segunda multinacional. Sai de uma vaga que representava mais ou menos 2% do faturamento da empresa, pra uma que era 50%. E passou dois meses eu fui lá e pedi as contas. O custo - trabalhar sábado, a noite, ver minha vida particular zoando - era alto demais.

Hoje penso que "não ter perfil" de multinacional é uma beleza.

Sobre o filme - planejamento sem ação, é perda de tempo. E eu posso falar - já planejei uns dez negócios, sem por nenhum em prática. E o que acontece é que uma hora vai te dando desespero de querer fazer, por a mão na massa.

Finalmente, o ponto que acho maior do seu email - ir pra europa, abrir restaurante, trabalhar em firma, essas minimetas todas, provavelmente dizem alguma coisa sobre você - tem um "insight" aí qualquer que você ainda não entendeu qual é (a maioria de nós não sabe, não é vergonha nenhuma). Mas tem uma coisa, lá no fundo, que todas essas metas tem em comum. Acredito que quando vc souber o que é, a vida vai ficar fácil.

Preciso aprender a escrever comentário que não tenha 500 linhas...

Homem Oco disse...

hehe...show de bola!! valeu mesmo pelo toque!

quando são coisas inteligentes, 500 linhas não cansam..

abs

Dd. Navarro disse...

Lendo seu post me veio uma coisa na cabeça...talvez seja o nome que vc está dando às coisas gere confusão dentro de você...não é fácil classificar como sonho alguma coisa na vida da gente, ao mesmo tempo, é muita maldade com a gente mesmo ficar buscando algo que tenha que ter características típicas de um sonho...pesado demais!
E se você tentasse, por algum tempo, ouvir seu coração e descobrir coisas que você gosta, sem tentar classificá-las assim logo de cara? Sei lá...pequenos ou grandes prazeres, taí..prazer é um nome novo. E especialmente desejos, sentidos eu diria.
Até que você, qq dia e se quiser...chame alguns deles de sonhos.
Acho a idealização perigosa demais pra vida humana e não quero dizer com isso que ela não deva existir, apesar a considero traiçoeira...
A linguagem humana é fálica...cheia de desejos implícitos e idealizações...!

Beijos.