Segunda-feira, 20 de novembro de 2006

Hoje foi um dia meio bizarro. Bem, primeiro acontecimentos prévios. Depois de 06 horas de Salamanca a Santiago (quanto mais o tempo passa mais torturante essas viagens longas ficam) cheguei por volta de 21h por aqui. Primeiro albergue, sem vaga.Segundo, fechado. Mas confesso que estava bem tranqüilo com a hipótese de dormir na rodoviária. Acho que a experiência traz tranqüilidade. Achei uma pensãozinha de uma velhinha simpática. Lugar pequeno mas limpinho.Quarto privado por 17 euros. Mas estou me sentido o próprio Arturo Bandini...tem até uma mesinha para escrever no quarto. Fui assistir a Deportivo x Celta e vim dormir.
No banho da manhã fiquei cantando aquela música da Timbalada “leva leva leva, leva levada do timbau...”, esqueci o nome e “saia bem rodada” do Chiclete. Nossa, bateu uma saudade desesperante do Brasil. Preciso dos meus amigos. Preciso de uma balada onde as pessoas falem português. Preciso encher a cara de vodka e pegar uma mulher ao som do Asa!
Fui para a catedral, famosa catedral de Santiago!Até que é bem bonitinha mas catedrais são catedrais. Já vi umas 50!Acho que se você é peregrino e andou 180 dias sob o sol, chuva e vento para chegar aqui, deve ter um sabor especial mas para um mero visitante ela só é muito bonita. Aliás, Jesus meu senhor, às vezes tenho vergonha de pertencer à raça humana. O final do caminho de Santiago é simbolizado com um beijo na estátua de Santiago localizada no centro do altar maior.Pois não é que uma porção de turistas babacas faziam fila para beijar a estátua? Uma porção mesmo; na meia hora que estive ali acho que mais de 100 pessoas beijaram a estátua. Aí você sentou ou ajoelhou em frente ao altar maior para orar ou só para admirar o local e tem uma fila de gente para beijar a estátua!!Ninguém se pergunta “por que eu vou beijar essa estátua?Por que eu vou atrapalhar a ordem do lugar?Eu sou um peregrino acabando a peregrinação? Hum, acho que não, então que diabos estou fazendo?”. Outra coisa: os flashes.Logo na entrada da igreja tem um aviso “por favor, respeitem os que estão orando. Sem flahses”. Enquanto estive lá várias fotos foram tiradas, a grande maioria c/ flash. É ótimo você tentar se concentrar pra rezar c/ clarões a todo instante direcionados ao altar maior…

Bem, saí da catedral e logo descobri que os três museus que queria ver estavam fechados por ser segunda. Fui para o cyber. Dia horrível, frio e chuva, fiquei mais de 02 horas na Internet.

Esqueci de escrever um negócio muito bizarro que rolou em Salamanca: quando cheguei na estação pra me mandar pra cá, estava apertadíssimo pra fazer xixi. Comprei a passagem rapidinho e fui ao banheiro. O banheiro tinha uns cinco daqueles trecos de louça na parede e os três primeiros estavam ocupados, restando os dois à minha direita. Eu não sei porque cargas dágua eu não fui ao último (há uma regra implícita entre nós, homens, de nunca usar o treco imediatamente ao lado de quem já está usando) e resolvi fazer xixi ao lado do velhinho que estava usando a terceira louça. Bom, assim que me posicionei,percebi o tiozinho dando aquela balançada típica pra evitar as últimas gotas na cueca. Só que notei que o tiozinho tava chacoalhando o binguelo há um tempo um pouco maior do que o normal. Como eu estava bem apertado fiquei quase 01 minuto fazendo xixi. De repente, depois de uns 30 segundos balançando a piroca eu percebi que o movimento do braço do velho começou a mudar: em vez de movimento de chacoalhar começou um movimento de vai-e-vem e ele começou a soltar uns gemidos!! Caralho, o velho tava tocando uma do meu lado!! Puta que o pariu!! Como eu estava no meio do mijo ficou impossível parar mas me bateu um misto de desespero e nojo, uma vontade terrível de sair correndo misturada com a de gritar pra ele “que porra tu ta fazendo?!. O cara devia ter uns 65 anos pra mais e socando uma ali, há 15 cm de mim...a hora que deu interrompi o fluxo urinário e vazei, nem lavei a mão. Depois ainda o vi perambulando pela estação. Credo!

Agora pensei na Fernanda. Ela me escreveu um e-mail ontem. Entre outras novidades, ela me disse que só agora estava se acostumando com o retorno à vida em BH. Ela já está no Brasil há dois meses. Também lembrei do Sven. Viajou por 05 meses e depois de um mês em casa não agüentou e pegou a estrada de novo. Passei a noite de hoje lendo passagens do meu diário. Li o que escrevi sobre a Fernanda. Sobre a Paula. Sobre o Sven. Sobre o casal neozelandês de Riomaggiore. Sobre Florença,.Veneza. Milão. Barcelona. Me deu uma alegria. Quanta coisa boa vivida. Quanta gente linda no caminho. Li uma passagem que escrevi há algum tempo que a vida é uma grande viagem. É isso!Viver é maravilhoso demais. Demais!Gente é maravilhoso demais!Acho que tudo o que eu gostaria é de não esquecer disso por nenhum momento. E agora preciso parar pois algumas lágrimas estão se formando em meus olhos...