segunda-feira, 9 de abril de 2012

(pretenso) compêndio sobre a liderança - parte I

Há algum tempo, frequentei um grupo espiritual que usava a ayahuasca como sacramento. Fiquei aproximadamente dois anos lá. Por razões que não vêm ao caso, um dia decidi que era o momento de parar. Isto faz três anos.

Aqui no Centro-Sul do país há, predominantemente, duas linhas que fazem uso desta bebida como veículo do progresso dos seus discípulos: a União do Vegetal e o Santo Daime. Não sou um grande conhecedor das doutrinas e, muito menos, das dissidências que explodem ao redor do Brasil, mas sei que há algumas diferenças importantes entre as duas.

A mais gritante é a dinâmica das reuniões: enquanto as linhas daimistas se utilizam do canto e da dança em rituais que podem chegar a seis horas de duração, os frequentadores da União do Vegetal ingerem o chá e ficam quietos, sentados durante duas, no maximo tres horas. Em ambas, porém, há um dirigente. Alguém com experiência suficiente para conduzir a sessão. Dirigir as energias dos presentes e dos "ausentes", se é que você me entende...Esta pessoa é chamada de mestre. Não há nenhum cunho transcendental nisso, é apenas por tratar-se de alguém que topou se trabalhar e foi evoluindo na escala da organização, tal como na capoeira e na bateria da escola de samba.

As sessões do nosso grupo seguiam o padrão da União do Vegetal.

Antes de escolher aquele que frequentaria pelos dois anos seguintes, eu dei uma passeada por outros grupos, sempre a convite de amigos. O primeiro e onde experimentei a bebida era um grupo grande, recheado de pessoas conhecidas. Uma delas era um cara que me dava aulas na escola de teatro que cursava naquele tempo. Tivemos um relação próxima durante uns 03 semestres. Depois cada um seguiu seu caminho.

Nesta época, ele estava sendo preparado para dirigir sessões; era uma espécie de "aprendiz de mestre." Pelo o que pude perceber é um processo bastante lento que pode, inclusive, dependendo do desenrolar de cada um, nem ser completado.

Dois dias antes de uma sessão cuja escala previa a sua direção, seu filho de 04 anos fora parar na UTI por causa de um coma diabético. Decidiu dirigir a reunião assim mesmo.

quarta-feira, 4 de abril de 2012

Pequena reflexão sobre a natureza humana, ops, animal...

Há algumas semanas vinha tentando cortar o cabelo. Decidi que seria hoje.Na volta do trabalho, passei na frente de um barbeiro que, durante a minha infância, frequentei muito. Entrei. Fui atendido pelo dono do salão, um senhor de 82 anos. Ele resolveu que cortaria o meu cabelo. Ficamos conversando. Uma delícia de papo. Perguntei que lições de vida ele poderia me dar. A pequena história a seguir resume completamente os conselhos daquele senhor.

Eu ouvi esta historinha em uma cena do filme Biutiful, do Alejandro Iñarritu, que assisti esse final de semana.Não há a menor relação entre o post e o filme (pensando agora, talvez até haja, mas não é o objetivo). Só escrevi isto para que, caso alguém veja o filme um dia e reconheça a história, não pense que eu sou um tremendo de um charlatão que nao cita suas fontes...de qualquer forma, por uma dessas coincidências da vida, a pequena metáfora vista no filme traduz como uma luva as lições do velho barbeiro...

Era uma vez um circo. Neste circo havia dois tigres. E um tratador, que cuidavas dos bichanos com muito carinho. Por mais de seis anos, o tratador alimentou os tigres. Desenvolveu uma confiança tal que sentia-se muito à vontade dentro da jaula. Certa vez, um deles machucou a pata. E o tratador cuidou do seu ferimento como se fosse um filho.

Um certo dia, o tratador estava alimentando um deles quando foi brutalmente atacado, e faleceu. O tigre, então, calmamente, devorou os restos do homem. Estava com fome.