Eu estava sentado na beira do deck, com os pés tocando a água do mar. Eu simplesmente adorava aquele lugar. Tinha passado muitos momentos da minha infância e adolescência por lá. E, além de tudo, o por do sol que começava tinha um poder grande sobre meu corpo, um poder de revigorar as forças que os muitos anos já vividos tinham, em grande parte, levado embora.
De repente vejo uma figura se aproximando. É um velho amigo. Tivemos diversos encontros ao longo da vida, mas confesso que nao o via há muito tempo. Me alegrei;ao envelhecermos, gostamos da companhia daqueles que nos conheceram em tempos passados.
Sentou ao meu lado. Sorrimos um ao outro, mas ficamos em silencio por um tempo, aquele silencio que só velhos amigos compartilham.
- Não esperava ve-lo por aqui - eu disse, sem tirar os olhos do reflexo do sol no mar.
- Pois é - foi a resposta, curta, porém afetuosa.
- Você veio me ver ?
- Não. Vim ter com uma outra pessoa. Você não conhece. Mas ao ve-lo sentado aqui, com os pés na água, me deu vontade de fazer o mesmo. Incomodo?
- De forma alguma. É até bom ter alguém com quem conversar neste momento.
Outro momento longo de silêncio.
- Já que nos encontramos por acaso - ele retomou o diálogo - como esta sendo a expectativa?
- Estranho. As vezes, fico tranquilo.As vezes, ansioso. Eu diria que é uma grande mistura de medo, nostalgia e dúvida.
- Dúvida? Logo você?
- Pois é..sabe aquele adolescente que nao vê a hora de andar na montanha russa, mas pouco antes de entrar no carrinho começa a suar frio? Uma vez li que é como se recebêssemos um pote cheinho de cerejas...vamos comendo displicentemente, até que um dia percebemos que só restam algumas..
- Você está poético.
- Tem razão. Deixa pra lá.
- Valeu a pena? Você foi feliz?
- Não sei. Certamente valeu a pena, mas nao sei responder quanto à felicidade. Eu gostaria, realmente, de ter sido mais leve.
- Esse é um problema sério entre vocês. Embora tenha encontrado alguns que conseguiram.
- Mas e aí, existe esta coisa toda mesmo? Esse montão de verdades que eu vivo falando pros outros mas agora nem eu sei se acredito?
- O que você acha?
- Eu gostaria muito de acreditar que sim.
- Então confia em mim.
- Você disse que tem encontrado alguns que conseguiram ser felizes. Qual o segredo?
Agora, o sol já havia se posto completamente. Os raios dourados e vermelhos davam lugar ao prateado. Uma leve melancolia, misturada com sensação de dever cumprido e insegurança me dominavam.
- Você vai voltar pra cá mais vezes - novamente, foi ele a interromper o silencio.
- Você tem algum conselho para me dar?
- Ué, você quer um conselho meu? Tem certeza?
- Sim.
Ele foi se levantando para ir cumprir o que tinha vindo fazer. Por um instante, imaginei se nao o havia irritado com minha pergunta. Claramente não, e me ri deste pensamento, afinal alguém tão experiente como ele nao deve se irritar com nada. Já indo embora, afastando-se do deck, ele parou, olhou para trás e me disse:
- Sabe qual a principal razão de vocês estarem aqui? Vocês precisam desenvolver força. Essa é a resposta à pergunta que você me fez. Força, lembre-se disso da próxima vez.
E ele se afastou definitivamente. Eu sabia que nos reencontraríamos em breve.
Enquanto a lua crescia no céu, eu refletia se estava indo mais forte do que quando cheguei.